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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

18/02/2024 07:30

O cristianismo na Rússia e países eslavos orientais, manteve-se unido até à invasão dos Tártaros no século XIII, dando origem ao desenvolvimento moderno, também na Ucrânia e na Bielorrússia. A primeira difusão do cristianismo aconteceu com a conversão e batismo do príncipe Vladimir de Kiev, devido à hierarquia de Constantinopla ter permitido o matrimónio com a esposa da irmã do imperador da grande capital, embora entristecido por uma cristã se ter unido em matrimónio com um pagão, embora já batizado. A Rus de Kiev, apesar das relações com Bizâncio, teve também relações com o mundo latino, embora a fé de origem bizantina tivesse um influxo determinante na sociedade da Rus. A Academia de Kiev teve uma grande influência tanto na Rússia como na Ucrânia. No século XVII, a igreja uniata da Ucrânia, de acordo com Roma, operou uma profunda reforma monástica, embora a igreja ortodoxa continuasse a depender do patriarcado de Constantinopla. Havia pressões da parte das autoridades para que se realizasse uma união com Roma. Um Sínodo dos polacos perdeu grande número de fiéis que passavam ao rito latino. O Rei Ladislau da Polónia, que aspirava a ser eleito Czar da Rússia, preocupou-se com a paz religiosa e tentou, mas sem resultado, renovar a união com Roma. No interior da Ucrânia havia um partido que apoiava a Rússia e outra a Polónia, nesta ocasião eram tidas em consideração tanto a igreja ortodoxa como a católica. Na Ucrânia, sob a autoridade polaca, renascia a igreja unida a Roma, enquanto em Kiev, sob a influência de Moscovo, o patriarca obtinha de Constantinopla o direito de designar o seu próprio Metropolita.

Entretanto, o século XVII foi uma época de transição na história da Rússia, que marca o fim de uma sociedade e prepara as grandes transformações da época de Pedro o Grande. Os patriarcas contribuíam a manter viva a unidade política e religiosa da nação, representada pelo Czar, semelhante ao que acontece hoje com o Presidente Putin e o seu Patriarca.

As divisões com a Ucrânia levaram em nossos tempos, a uma parte dos ucranianos, principalmente da igreja de Lviv, a se unirem ao Patriarca de Constantinopla, divisão que muito magoou o Patriarca de Moscovo, nem agradou a Putin.

As tentativas pacíficas de união e concórdia do Papa Francisco, não foram diversas da história da antiga Santa Rússia, de certa forma a confirmar o ditado que a história se repete nestes acidentes de percurso da humanidade.

Não podemos nem devemos esquecer o frutuoso trabalho dos mosteiros russos, especialmente o de Santo André de Moscovo, que deram hospitalidade aos monges provenientes de Kiev. Entre os monges provenientes da Ucrânia e educados na Academia de Kiev, que influenciaram o progresso da teologia em Moscovo, encontra-se o nome do polaco Simeon Polockij (1680). Depois de Kiev, Simeon frequentou o Colégio dos Jesuítas, conseguindo um alto grau de conhecimento do latim e grego, escrevendo em polaco, depois passou ao eslavo eclesiástico. Vivendo em Moscovo, distinguiu-se logo pela sua vasta cultura, de tal forma que o Czar que condenara “os antigos crentes” que esconderam ícones famosos para salvá-los nas revoluções. O Czar, nome que deriva de César, pediu-lhe uma obra contra os cismáticos chamado “A Vara da Correção” e, principalmente, lhe concedeu a permissão para abrir uma escola, confiando-lhe a educação dos próprios filhos. Simeon, é também considerado o primeiro poeta da Moscóvia. Teve o mérito de introduzir na Rússia a chamada “poesia silábica”. Teve a intuição para compor em rima os Salmos da Bíblia, tendo os defensores da ortodoxia considerado ser um sacrilégio. Além disto, escreveu “dramas escolásticos” com argumentos bíblicos, prática usada pelos jesuítas. Escreveu também o livro “Comédia da Parábola do Filho Pródigo,” talvez uma alusão aos muitos filhos dos nobres que deixavam o país para irem estudar para o ocidente. Deste grande escritor conservam-se também uma “Vida de Cristo” e um “Catecismo Breve.”

O seu discípulo predileto foi Silvestre Medvédev que fundou um Colégio com o modelo da Academia de Kiev. A cultura ocidental influenciou a sociedade russa com relações com o mundo germânico protestante e o mundo católico. A igreja russa interveio também para salvar a ortodoxia. Apesar de tudo, a cultura ocidental não influenciava a população, estava sobretudo orientada para a “velha fé”. No século XVIII a sociedade russa abria-se definitivamente ao ocidente.

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