Só que, do nada, a senhora vem direita a mim. Mas calma. Desta vez foi a pé e de forma muito menos impactante! Chegou-se e pediu desculpa. Perguntou se tinha feito muito estrago. Confesso que a primeira coisa que respondi foi: "minha senhora, o seu carro tem sensores". Pronto. Aquilo não me saía da cabeça! O facto de um tipo um dia se ter dedicado a inventar um sistema que alerta para obstáculos quando o R está engrenado devia ser motivo mais do que suficiente para o respeitarmos e coisas destas não acontecerem… Mas pronto! Aconteceu e não havia mais nada a fazer. Respirei fundo! Esfreguei a cara e pedi que seguíssemos a nossa vida. E seguimos.
Naquele momento eu já só estava preocupado com o que a minha mãe ia dizer. Será que me ia colocar de castigo? Cortar na mesada? Obrigar a comer a sopa toda? Pôr-me a trabalhar nas férias para pagar o conserto? Estava tramado. Por sorte, a senhora fez questão de esperar por mim e deixar-me o seu contacto! Prontificou-se a pagar o arranjo de eventuais danos. Resisti. Não era justo. Para além da incerteza dos estragos, percebi que estava a falar com uma pessoa de bem e com um elevado sentido cívico. "Fazemos então assim: se a minha mãe perceber alguma diferença, entro em contacto. Caso contrário, está o assunto resolvido". Até agora não disse nada. Não se apercebeu de nada. Os faróis ligam-se. A buzina funciona. O carro anda. Portanto, para ela, está como novo! Não vamos ser nós a arranjar problemas, não é?
Até porque, por estes dias e aquando das Jornadas Madeira, o comandante da PSP-Madeira queixou-se que "as pessoas estão mais impulsivas e menos tolerantes depois da pandemia". Reforçou até que "o que muitas vezes é relatado como uma 'bárbara' agressão é porque a vítima se pôs a jeito". Pois claro. Perfeitamente de acordo. No meu caso, por exemplo, quem me mandou colocar atrás do carro da senhora? Agora, pensando melhor, eu até acho que o culpado fui eu. Fica então aqui assinada a minha declaração amigável.
Menos amigável pareceu-me, ainda nas mesmas Jornadas, o director da UCAD - Unidade de Comportamentos Aditivos e Dependências. Nelson Carvalho pediu "mais responsabilidade aos pais, que deixam jovens de 13 a 14 anos, saírem à noite e não acompanham os seus filhos". Não podia estar mais de acordo. É com cada uma que não lembra ao diabo. Ainda há dias a minha mais nova queria porque queria ir ouvir a Bárbara Bandeira. Como pai responsável, disse que não. Ela insistiu! Aborrecido, lembrei-lhe que quem manda sou eu e então lá fomos. Assim que chegámos, julguei que me tinha enganado no dia. A plateia era maioritariamente de menores! E a artista cantava de soutien, com o fio dental de fora e as calças a meio das ancas… Não vou dizer que me senti incomodado. Não senti. Mas quando dei por mim tinha uma pequena ao meu lado deitada, de olhos fechados, numa manta. Pensei para mim: "que tristeza… onde andará o irresponsável do progenitor deste ser?" E não é que esse era eu!? A Eduarda tinha adormecido em menos de meia hora. Tinha dado o que tinha a dar, pronto. Peguei nela e vim embora. Não satisfeita ainda ponderou ir ver o Zambujo! Confesso que hesitei. Em boa hora não fui. Então não é que o dito cujo cantou com a camisola do Marítimo? Justificou-se dizendo que "o Max era do Marítimo". E depois?! Agora querem ver que para se prestar um tributo temos que fazer ou ser tudo o que o homenageado fazia ou era? Oxalá o senhor nunca tenha que fazer um louvor ao António Variações. Como não ia ficar esse rabinho!?
Ps, hoje é dia de Chão da Lagoa e a Eduarda voltou a fazer das suas. Pediu ao avô para ir! Este, sabido, respondeu que só levava os netos se os pais destes também fossem… Coitado. Devia estar à espera de ver, no mesmo palco, os Dama e o vagabundo?! Esquece pai. Inclui-me fora dessa. Vai tu. E tem juízo, por favor. Não aceites bebidas de estranhos nem faças muitos brindes com conhecidos. Lembra-te: "a liberdade usa-se enquanto se souber usar". Se abusares, outro ano não vais…