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Artigo de Opinião

Directora Business Development

11/05/2023 08:00

A cidade estava em festa e Londres acordava para um grande dia, com as bandeiras de Union Jack a adornarem todas as ruas e praças. As ambulâncias alinhadas e próximas do palácio, preparadas para uma eventualidade; pequenos grupos das mais variadas fações militares caminhavam apressadamente; uma manada de cavalos rompia a trote o silêncio da manhã e os inúmeros funcionários da organização, começavam a encaminhar as pessoas que se iam aproximando do palácio, direcionando-as com determinação e alegria, pelo St. James’s Park.

Após uma serena caminhada pelo parque, encontrei o sítio onde iria permanecer as próximas 8 horas, de pé, junto dos inúmeros ingleses, australianos, americanos, alemães, brasileiros e demais nacionalidades, aguardando a parada militar, a passagem da família real e o novo monarca. Ninguém estava a ser obrigado a ali estar e muitos já haviam pernoitado algumas noites aguardando o melhor lugar na linha da frente. Diziam-me com entusiasmo, "Viemos prestar o nosso respeito ao novo rei." E assim estavam aguardando a passagem do rei (que iria durar uns meros segundos) milhares de pessoas em euforia, que mesmo debaixo da chuva que insistia em cair, não arredavam pé.

Questionei-me várias vezes ao longo destas duras horas em que permaneci quase imóvel, junto à majestosa rua The Mall (que vai desde o Palácio de Buckingham a Trafalgar Square), as razões que levam milhares de pessoas, das mais variadas idades, desde bebés de colo, a idosos de fraca mobilidade, a se mobilizarem, de forma tão cortês e dedicada, em torno da família real. O que leva este país, a abraçar a monarquia, com todo este esplendor?

Aí pensei em Portugal, que apesar da nossa longa e bonita história, viramos costas a mais de 800 anos de monarquia e aceitamos uma república em 1910, onde o chefe de Estado (Presidente da República) é eleito pelo povo, dando uma ilusória ideia de poder a um povo triste e cada vez mais remediado.

Em Portugal optamos pela república, onde o poder é exercido pelos representantes eleitos, sob o mote da igualdade e da liberdade. Será este o modelo que serve melhor os portugueses? Será que sentimos mesmo essa igualdade e essa liberdade que nos empossaram? O porquê de não nos questionarmos e debatermos outras formas de poder?

Num Portugal vazio de ideais, onde as sucessivas cenas de falta de carácter politico, enchem os telejornais, o meu descrédito não é na democracia, mas sim nos portugueses, que apesar das sucessivas artimanhas políticas do partido que mais anos governou Portugal após o 25 de Abril, continuam a dar o seu apoio a um poder decrépido, que subjuga os portugueses a vidas miseráveis, com fracas perspectivas, onde impera a ignorância na hora de votar, porque não se deram ao trabalho de conhecerem os programas políticos dos restantes partidos e em que medida se enquadra nos seus ideais de democracia, porque sempre votaram neste partido e são fiéis às suas (fracas) convicções, porque votam os dependentes do trabalho público e dos subsídios, porque estão descrentes da política e resolvem nem ir votar, deixando para outros a decisão que irá marcar as suas vidas, porque faltam os votos dos que saíram do país em busca de melhores oportunidades. No fecho das urnas, ganha a ignorância.

A monarquia constitucional que impera no Reino Unido, tem sido símbolo da estabilidade e unificação deste país no mundo, com valorização da sua vasta história e tradição. Os ingleses não se sentem ameaçados na sua liberdade e a monarquia tem bem presente que só existe porque o povo assim o permite e como disse o Rei Carlos III na sua cerimónia de coroação, "Não vim para ser servido, mas para servir".

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