MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Investigadora

13/05/2024 07:30

Maio é o melhor mês do ano. É o meu mês e é quanto basta. Para manter a tradição, atirei-me logo às cerejas e, pela primeira vez, fiz a viagem entre a Madeira e o Porto Santo, que dura apenas 15 minutos, a devorar este fruto que é o meu preferido. Não é nada de extraordinário, pensarão muitos, mas para mim foi mesmo muito especial.

E já que o mês é de festa pois são vários os aniversariantes – todos festeiros, graças a Deus- haverá comemorações para todos os gostos e feitios. Claro que estou a preparar o meu aniversário com toda a popa e circunstância, uma matiné. De chinela no pé, fato de banho e toalha de praia, irei dançar até o sol se pôr. Se tudo correr bem, e mantendo a tradição, irei festejar durante o mês todo pois é assim que entendo a vida – em perpétua consagração.

Por falar em praia, este lugar maior da minha devoção, decidi abordar algumas espécies frequentadoras do areal, esse viveiro onde proliferam tipologias interessantes e merecedoras de alguma reflexão. Neste âmbito, sigo as pegadas de Vera Lagoa, esse diabo de saias e de curiosidade aguçada que observava atentamente as coisas e as pessoas. Estava eu, então, lagartixando em pleno sábado solarengo, quando oiço um chinelar pesado e desengonçado acompanhado por várias onomatopeias e sobretudo por “detesto esta areia, detesto esta areia” repetido até à exaustação. Em seguida, esta criatura, que deverá ter tendências masoquistas, estendeu a toalha na areia (se tivesse um espanador, certamente teria passado por cima da dita) e ficou de pé por largo tempo, tirando fotografias da paisagem e de si, que devem ter circulado nas redes socias em tempo real com o objectivo de fazer inveja aos amigos e familiares. Depois, e já tinha passado uma boa meia hora, deitou-se, imitando os restantes banhistas, mas sempre evitando qualquer contacto com os finos grãos dourados.

Vi, também, uma senhora, daquelas muito amigas dos animais (sou eu a supor) estendida de papo para o ar e com o seu fiel amigo de 4 patas a seu lado. Não é caso único, infelizmente. Há gente que teima em levar o canídeo para a praia, tal como se levam os filhos, os sobrinhos ou os afilhados. O bicho, de língua de fora, desassossegado, mas obediente, sem sombra, porque a sua amada dona não levou guarda-sol, ali passou a tarde inteira. Os que me conhecem imaginam o martírio que foi ignorar o cenário e me manter quieta e calada. Será que estou finalmente a conquistar um lugar no céu?!

Por último, e merecendo igualmente um lugar no pódio, uma criatura do sexo masculino, andou para lá e para cá de cigarro na boca até que, e já com água pelos joelhos, jogou a beata para dentro de água, mergulhando logo de seguida. Tenho imensa pena que não se tenha afogado, já que visivelmente os seus dotes anfíbios eram visivelmente parcos e eu até lhe roguei uma pequena praga. Bastava uma água-viva para lhe queimar alguma parte do corpo. Não especifiquei qual. Deixei à consideração do divino que, dizem, escreve certo por linhas tortas. O castigo veio em forma de nuvem escura e ameaçadora que forçou o retiro da família feliz para o recato de casa. Ninguém ouviu, mas eu gritei: Aleluia!!! Aleluia!! Ah já me ia esquecendo de um casal de meia-idade, que chegou quase ao final da tarde, tendo cada um estendido a sua toalha encostada uma à outra. Estão a ver? Acontece com pouca frequência, mas é tão giro. É quase como quando encontro um bago com duas cerejas. É tão raro que fico enternecida e de imediato o coloco na orelha como a minha avó me ensinou, rodando a cabeça para lá e para cá para mostrar os meus brincos de cereja.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

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