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Artigo de Opinião

Antropóloga / Investigadora

20/05/2024 03:30

Enquanto mãe, considero que a minha função é ensinar, proteger e guiar. Neste sentido, sou professora, sou leoa e sou guia. Por vezes, um pouco amargo e ingrato, ter de tomar constantemente decisões, educar e desempenhar uma série de papéis que obrigam em que tenhamos de ser mais sérios do que aquilo que gostaríamos, sempre com aquele ideal de que é o melhor para os nossos.

Nesta semana, com os atuais discursos parlamentares e a liberdade de expressão, deparei-me a ter de explicar política à minha filha de dez anos.

Nesta fase de pré-adolescência à porta, a minha mais velha interpelou-me com a questão: “O que são partidos? Qual é a diferença entre a direita e a esquerda?”

Confesso que nunca pensei que, com esta idade, me perguntasse tal coisa.

Com a puberdade à porta, estava mais à espera de perguntas como: “Mãe, como é que se fazem os bebés?”.

Nos telejornais, só mencionavam os discursos parlamentares, em que as bancadas do Bloco de Esquerda, Partido Socialista e Livre mostravam o seu descontentamento pelo facto do CHEGA ter dito que os turcos não são trabalhadores. Aí, surgiram as tais questões se é ou não limitador de liberdade de expressão. Enfim...

O que é certo é que após este aparalto todo, claro, surgem questões dos mais novos, a tentar ter alguma consciência de “assuntos de adultos” (como eles dizem). E, obviamente, sai-me pela culatra, sem aviso: “Qual é a diferença entre a esquerda e a direita?”

É uma aprendizagem para uma adolescência que será, decerto, muito comprida. Acredito que quando for o meu segundo filho a questionar, já tenho as respostas prontas, debaixo da língua, e vou fazer brilharete. Portanto, vejo estas questões – e tantas outras – como uma aprendizagem também para mim, enquanto mãe.

“Muitas coisas separam a esquerda e a direita”, expliquei à minha filha, tentando iniciar o discurso, pensando constantemente no que iria dizer a seguir.

“A verdade é que uns pensam de uma forma, e outros pensam de outra. Mas não quer dizer que “aqueles” são mais importantes do que os “outros”. Ou seja, ser de direita ou de esquerda não define quem nós somos, podemos ser de quem gostamos ou antipatizamos. Há boas pessoas de direita e há boas pessoas de esquerda e há gente que não presta em ambos os lados. Vais ouvir de tudo sobre cada partido, mas o importante é tu leres e tirares as tuas próprias ilações, sem emproares pelos ouvidos.”

Tentei ser o mais imparcial possível neste aspeto: “eles andam ali a insultar-se nos discursos e nos debates, mas tanto a esquerda como a direita defendem a liberdade, a dignidade das pessoas, os direitos que ninguém pode pôr em causa, porque estamos numa Democracia, e há uma Lei maior, que se chama Constituição, que todos têm de respeitar e defender. Andam ali às turras, mas o que todos queremos é o melhor, um futuro digno para a nossa sociedade.”

Aproveitei para rematar: “O importante é ir votar. O importante é perceberes que não podes deixar os outros decidir por ti. Que o não te importares é que põe em causa os teus direitos. O importante é tu saberes que todos, independentemente, do partido, da cor da pele, da religião, ou do género, devem ser tratados por igual.”

“Mãe, eu acho que tu davas uma grande ministra!”.

Dei uma gargalhada e respondi: “Se eu fosse ministra, já tinha posto o país a andar!”

Na educação, não se ensina, educa-se; não se divide o conhecimento, integra-se; não se transmite, fomenta-se a descoberta; não se impõe, dialoga-se; não se exclui, inclui-se. Para mim, isto é educação!

Alexandra Nepomuceno escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas

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