Janeiro é um mês intenso. Que exige muito de nós. São fins e inícios de ciclos que se anunciam, interiormente. São recomeços. Sobretudo de velhas pretensões. Promessas que fazemos a nós próprios. Irrevogáveis. Tanto quanto o famoso irrevogável de Paulo Portas, que durou apenas 4 dias. Na altura, Portas revogou o irrevogável e ficou no governo de Pedro Passos Coelho como vice-primeiro-ministro. Assim vão as minhas determinações de Ano Novo. As minhas e as de muito boa gente. A altura de pico, a primeira semana de janeiro, já lá foi. Depois veio a desculpa do Santo Amaro e a tradicional limpeza dos armários. Entretanto, janeiro já vai bem adiantado. Pelo meio, foram perdendo força. As intenções. Desde a (re)inscrição, pela nona vez, no ginásio, um que esteja bem falado, e frequentado, a uma nova e metódica dieta saudável. Infalível. Este é que vai ser o ano. Dizia para mim própria, com uma convicção duvidosa. Ainda me passou pela cabeça, confesso, mais do que uma vez, passar diretamente a um plano B. Infalível, dizem. Mas, senti vergonha, de tal pensamento. Não só pelo que muito tem dado que falar. Mas, pelo princípio, ou falta dele, em si. A ideia seria, aos poucos, por janeiro adentro, esquecer a loucura da dieta saudável, equilibrada e sustentável, para ser de 25 (já não se diz 2025, não pega bem), os exercícios físicos, até por acumulação de um certo cansaço das festas, e passar logo às tão badaladas injeções, à escolha do freguês, segundo me contaram. Precisamente, ao Mounjaro, um medicamento que, tal como o Ozempic, é indicado para quem quer perder uns quilinhos, como eu. Contudo, fui travada a tempo. O meu sentido ético (que foi posto à prova) e espírito crítico, afinados, logo me fizeram cair em mim. Senti-me ridícula. Como diz um ilustre amigo que muito prezo, com uma bela idade e muito mundo percorrido, parecia uma daquelas miúdas (a fazer 50 anos, na próxima segunda-feira) ‘xixi-cocó’. Uma espécie de quem só tem futilidades na cabeça, cheia de manias, para ser mais concreta.
Sobre as tais injeções milagrosas, mais vale aceitar as suas verdadeiras indicações e prescrição médica. Deixá-las disponíveis nas farmácias para quem verdadeiramente delas precisa. As indicações da bula são claras: pessoas obesas ou com excesso de peso (índice de massa corporal igual ou superior a 30) – o meu anda pelos 18, felizmente –, e para quem tenha diabetes tipo 2. Não é, mais uma vez, felizmente, o meu caso. E, não. Não se brinca com coisas sérias. Pelo meio, andamos todos ao mesmo. Lidamos, como podemos, com as últimas e inusitadas saídas de Elon Musk, o multimilionário norte-americano, dono da Tesla, da Space X e da rede social X, que negou ter feito uma saudação fascista ou nazi, após a tomada de posse de Donald Trump, como Presidente dos Estados Unidos, que decorreu ontem, em Washington. A sua falta de estilo, em saudações públicas, é justificada pelo próprio pela má intenção e sucessivos golpes sujos, quer da imprensa internacional, quer por parte de historiadores especialistas em fascismo, nazismo e neonazismo. Populismo, ao extremo. Dizem. O mesmo tratamento dado a Trump. Coincidências e tendências globais. O novo Presidente norte-americano tomou posse, com toda a pompa e circunstância, rodeado pelos seus, família, família política, e convidados, assinou uma série de ordens executivas, polémicas e preocupantes, que considera prioritárias e que vão desde o governo federal passar a reconhecer apenas dois géneros (feminino e masculino), até a uma série de ordens destinadas a refazer as políticas de imigração da América, como a retoma da construção do muro entre os EUA e o México e a saída dos EUA da Organização Mundial de Saúde. Ainda aqui vamos.
Por cá, voltamos, ano após ano, por esta altura, ao mesmo tema e às mesmas conclusões: a pobreza energética. Provocada pela falta de isolamento térmico das casas e por estas não terem sido construídas, sobretudo a partir dos anos 60, com aquecimento central. As pessoas mais pobres dizem que não têm dinheiro para aquecer a casa. Inquieta-me, verdadeiramente. Mudo de canal de notícias, e sou outra vez surpreendida. Por uma outra notícia, sobre um estudo recente, que dá conta de que os portugueses gastam mais em raspadinhas do que em seguros de saúde, ou na conta da luz, ou do gás, para aquecer a casa. Em termos comparativos, segundo a reportagem, os portugueses mais pobres, gastam mais nos jogos da Santa Casa, do que a classe média em saúde. São escolhas, dizem. A mim, incomoda-me, verdadeiramente.