MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Consultor

3/07/2024 07:30

Diz o provérbio que “o casamento é uma fortaleza sitiada; os que estão fora querem entrar e os que estão dentro querem sair.” Segundo a Pordata, em 2022 efetivaram-se 20 mil divórcios em Portugal. Alguns, eventualmente, impulsionados por uma relação extraconjugal. O tema surge a propósito do novo livro do psiquiatra José Gameiro – Manual de Infidelidade – que a define como “uma relação não consentida, fora de uma outra relação estabilizada formal ou não formal.”

A infidelidade nasce numa relação que vai ficando cada vez mais íntima, com encontros frequentes, até que se dá um turning point. Os meios digitais potenciam a escalada da intimidade, tornando a comunicação discreta/permanente e a clandestinidade constitui um afrodisíaco. Com o tempo, estas relações têm avanços e recuos, pelos condicionalismos e sentimentos de culpa associados. Um outro cenário consiste nas relações de início súbito – one night stand. São aventuras fugazes inesperadas e limitadas a 1/2 noites, habitualmente numa festa ou numa saída profissional. São as mais frequentes e quando ficam por aí, passam despercebidas ao casal. Caso contrário, o percurso é semelhante às anteriores.

Esse trilho é marcado por mentiras, omissões e receito em ser apanhado. Embora possa haver vontade em revelar ao companheiro, adia-se por receio e convicção de que o affair é passageiro, evitando magoá-lo. Começam os silêncios, o distanciamento físico, o adiamento de projetos partilhados e as saídas estranhas de casa. Ao fim de algum tempo, o companheiro começa a desconfiar e tenta aceder a todo o tipo de informação digital não apagada, à procura de provas.

Quanto aos amantes, ao fim de algum tempo surgem as conversas sobre projetos futuros, em que um ou ambos começam a ficar assustados e podem planear a retirada, embora tenham dificuldade em renunciar aos momentos de prazer. Os cortes duram pouco tempo e tudo volta ao mesmo, havendo promessas mútuas de resolução da vida pessoal de cada um. Se este ciclo se prolongar, o tempo corre contra a nova relação. Neste caso, há uma reaproximação do casal oficial, com sucessivos atrasos e desculpas em relação ao amante, levando ao definhar dessa relação. Se os amantes decidem manter a relação sem colocarem em causa a estabilidade familiar de cada um, a sua vida amorosa pode durar indefinidamente. Já quando o casal clandestino decide partir para um projeto comum, a maior dificuldade é ajustar o tempo de separação, sendo que geralmente um deles tem maior dificuldade em encarar a rutura, condicionado pelos filhos e pela habitação comum. Se houver pedidos de adiamento sucessivos de um dos elementos, a tensão aumenta e a tendência é para que a relação clandestina termine após algum tempo.

Quanto ao casal oficial, quando a infidelidade é descoberta, acontece uma violenta explosão. A primeira reação é a vontade de separação. Sucede o desejo de vingança e o interrogatório quase policial, acompanhado de fantasias da traição e de comparações com o elemento externo ao casal, que no limite podem levar à depressão. Sanada esta fase dolorosa, se o casal decidir continuar junto, a vida sexual recomeça, tende a melhorar e ressurgem projetos comuns.

Parafraseando José Gameiro: “(...) o estado de convulsão por que passam os casais com um problema de infidelidade pode ser muito criativo e dar lugar ao nascimento de um novo casal. Mas não aconselho ninguém a querer passar por isto para evoluir enquanto casal... É demasiado duro e não tem garantia de sucesso.”

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

Ver todos os artigos

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Qual o valor que gastou ou tenciona gastar em prendas este Natal?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

Últimas