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Artigo de Opinião

Vice-presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz

25/10/2023 08:00

E, nestas questões, como em tantas outras, o pior que pode acontecer é deixarmos que tudo adormeça por debaixo de um manto de silêncio, falsas aparências, falsos avanços civilizacionais ou aparentes progressos.

Enquanto houver um grito, audível ou não, de uma mulher que morre, de uma mulher agredida, de regimes onde as mulheres não têm direitos, de casas onde não impera a paz, mas sim a violência, de organizações que negam à mulher um papel de liderança porque no fundo acreditam que a condição de macho é superior, enquanto houver necessidade de lutar pelo que deveria ser natural, estas efemérides, a sua sinalização e o debate que elas suscitam são não apenas necessárias, mas sobretudo obrigatórias.

Simone de Beauvoir escreveu a seguinte frase: "Ninguém nasce mulher, torna-se mulher". Frase forte de uma das mulheres que mais escreveu sobre a condição feminina. E este não nascer mulher, mas tornar-se mulher, não é uma afirmação da condição biológica, mas sim da condição sociológica da mulher que lhe é imposta e não natural. Ou seja, o que Beauvoir defende é que o nascer com um determinado sexo não deveria ser condicionador de um lugar pré-definido, de um papel padronizado e de uma natureza imposta. Nascer mulher não é um lugar de uma espécie de segundo sexo, ou de um sexo secundarizado, dado que a condição de nascer deveria ser um ponto de partida a partir do qual todos deveríamos estar em papel de igualdade. Coisa que ainda não acontece porque à mulher começa logo por ser imposto um papel, um lugar, uma segunda natureza. Daí o não nascer mulher, mas tornar-se mulher. E é pena que este tornar-se ainda seja habitado por discriminação, por violências várias, por atos e omissões tantas vezes infames, tantas vezes injustos, tão contrários à igualdade e ao respeito que o Humano merece.

De assinalar a atribuição da mais alta distinção na área dos direitos humanos, o Prémio Sakharov, a Jina Masha Amini pelo Parlamento Europeu esta semana. Jina, uma jovem curdo-iraniana foi morta a 16 de setembro de 2022, após ter sido detida pela polícia moral do Irão, por usar incorretamente o véu islâmico.

A União Europeia reconhece assim a luta de milhares de iranianos e iranianas, em particular mulheres e jovens, que durante meses desafiaram o regime iraniano e deram voz ao movimento social "Mulheres, Vida, Liberdade", que se está a tornar histórico e um lema para quem defende a igualdade, a dignidade e a liberdade.

Volto a dizer, por isso, que enquanto houver um grito, audível ou não, é preciso erguer a nossa voz mais alta e é preciso fazer da nossa ação um verdadeiro movimento de progresso.

Daí estarem perfeitamente legitimados organismos como o nosso Conselho Municipal para a Igualdade, ou as várias iniciativas que pretendem sinalizar e levar ao debate a questão feminina, as violências e a discriminação. Uma dessas iniciativas terá lugar amanhã dia 26 na nossa Biblioteca Municipal de Santa Cruz, e a 17 de novembro na Biblioteca Municipal do Caniço: uma exposição intitulada ‘aqui a princesa salva-se sozinha’. Que os homens entendam a mensagem e que as mulheres saibam incorporá-la e torná-la mais do que palavras ditas ao vento.

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