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Artigo de Opinião

9/11/2024 08:00

Basta olhar para a realidade circundante para nos inquietar onde está o rigor, a exigência, o mérito, que permite que um país cresça e se orgulhe de um desenvolvimento sustentado? Não me impele qualquer agenda político-partidária, mas é seguro que um dos problemas que Abril veio criar foi a consagração de um desmiolado igualitarismo paralisador do mérito e da diferenciação e sobretudo o de fazer crer socialmente a qualquer macaco que se pode alçar a qualquer galho, ainda que dele não perceba pevas. Portugal vive na ditadura do politicamente correcto e dos paninhos quentes sobre os assuntos, onde qualquer desconformidade se torna maldita. Pode-se pensar, mas não ousar expressá-la para não correr o risco de insulto ou identificação com insensatos populismos ou saudosismos. Cada macaco no seu galho pretende significar na sabedoria popular, que cada um deve estar no seu devido lugar, sem se intrometer em coisas para as quais não tem competência, e tal só se alcança eficazmente com uma cultura de rigor, de exigência e de selecção meritória, em detrimento de uma atitude às três pancadas.

Mais do que planear adequadamente o futuro, antecipar problemas e prever-lhes soluções, escudando-se no rigor e na tecnicidade de quem percebe da poda, o país parece preferir cavalgar as agendas e os oportunismos do momento, alicerçando-se nos improvisos da mediocridade sem visão.

Muita da mistificação igualitária advém dos devaneios do sistema de ensino. Num clima permissivo, chega-se à faculdade, instigados pela ilusão do culto do doutor, sem dominar a língua pátria ou possuir ferramentas de um conhecimento básico estruturado e o necessário espírito crítico. E ali, para engorda de orçamentos universitários, concluem-se formações nas centenas de licenciaturas em coisa nenhuma de que o mercado de trabalho não necessita e vampiriza em tarefas niveladas pelo ordenado mínimo.

Não obstante a voz corrente nas tabernas e a necessidade comunitária de garantir a todos uma vida humanamente digna e o consequente patamar de rendimento, é fundamental acautelar a diferenciação profissional e a correspondente especificidade salarial, assente na exigência e no mérito.

Essa premiação hoje, mais do que por um conteúdo material, parece decorrer unicamente da força do poder reivindicativo e da instabilidade instantânea que possa causar, ou dos votos que possa fazer perder.

Veja-se o exemplo das movimentações corporativas, dos estatutos forjados nos gabinetes ministeriais que aspiram aos mesmos encómios profissionais de formações académicas com séculos de história ou a criação de carreiras sem qualquer especificidade funcional, onde ninguém quer fazer a destrinça entre os bons e os maus.

E o que o mercado não aproveita a política escancara-lhe as portas. A via onde mais parece ser possível a qualquer macaco se alçar a qualquer galho é onde a politiquice pulula. Apanha-se a boleia de uma sigla qualquer, soletra-se-lhe a cartilha de ouvido, veste-se um casaquito, ostenta-se um ar compenetrado e sério e sem necessidade de grandes dotes, ganha-se uma importância social e material desmerecida. E hoje petisca-se aqui, amanhã acolá, como conceituados especialistas em tudo e mais um par de botas, na habilidade de falar sobre tudo sem saber de nada. A arte de governação de um país transformou-se num campeonato desportivo que é preciso ganhar e o bom artífice da coisa pública o que mais concorre para a conquista da taça, satisfazendo interesses parcelares ou imediatos, dar o que pode e o que não pode, seja isso relevante ou não para o futuro da nação.

Neste contexto ensandecido, todo aquele que tenha a clarividência de indicar o bom caminho, será sempre vilipendiado, porque isso deixou cegamente de interessar, quer a quem vende o peixe, quer a quem o compra.

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