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Artigo de Opinião

30/03/2024 06:00

As cassetes, hoje completamente obsoletas, usaram-se por muitos anos. Alguns leitores de cassetes permitiam voltar ao início automaticamente e reproduzir tudo outra vez. Este mecanismo repetitivo inspirou alguém para designar o discurso de um partido político, encalhado numa determinada dogmática ideológica.

Quem não se lembra do boneco do camarada Cassete que caricaturava uma figura pública no programa Contra-informação? Mas não é para bater nesse partido que venho, até porque lhe é de reconhecer, no espectro político nacional, a valia na luta antifascista e de combate a um capitalismo desenfreado e a consistência de uma verdadeira escola da respectiva cultura histórica e política. O que me traz aqui hoje é que, apesar de caber àquele partido o epíteto da cassete, vejo noutras paragens, que se intitulam de pensamento pluralista, o endeusamento de narrativas e o afloramento de unanimismos contra-natura, paralisadores de uma saudável efervescência da reflexão política e social, como se a realidade fosse a preto e branco e só houvesse um aberrante maniqueísmo, pouco dado a concessões, entre os bons e os maus.

Mais do que espaços de debate, e construção cívica e crítica, abertos à militância, a simpatizantes e à chamada sociedade civil, alguns recantos partidários estão transformados em bazares de venda de utilidades pessoais e promoção de interesses inconfessados, espartilhados em narrativas inquestionadas e pouco alicerçadas em substratos ideológicos ou no superior interesse da colectividade.

Há uns tipos que engendram umas coisas à pressa que assumem como objectivos políticos e as narrativas oficiais que os devem consubstanciar, cujo rigor, e seriedade, parece cada vez menos convincente, e são atiradas a um séquito fiel que aguarda, qual claque futebolística amorfa e impensante, a estratégia e os passos a seguir. Levanta-se então todo um coro entoado num uníssono de lugares comuns e de circunstância, como uma pescadinha de rabo na boca, de uma lengalenga sem rasgo de inovação. Visto de fora da cegueira dos aparelhos, fica a ideia de que se trata de uma espécie de novas cassetes, sem a firmeza da outra cassete.

E estas novas cassetes sem alma, passando as mais das vezes ao largo do essencial, em lugar de cativar racionalmente rostos indecisos, afastam simpatizantes e gente pensante, não arregimentados à ortodoxia de cassetes vulneráveis, tidos por inimigos, num basismo confrangedor de se não és por mim és contra mim.

Ao rol de figurantes agenciados, dizendo todos a mesma coisa, acresce um grupo de operacionais, boçal e básico, que espalha notícias falsas, assassina o carácter de quem se opõe ou ousa pensar diverso nos circuitos da maledicência das redes sociais e infunde temores, como o cão feroz que, idiota e tropeçando no pé, vai para além da voz do dono.

Todo este frenesim de cassetes surradas e enfadonhas engrossa, por desencanto e falta de confiança, as fileiras da abstenção e dos populismos emergentes que certeiramente exploram as ineficiências e as iniquidades dos sistemas políticos democráticos.

Mais do que agências de clientelas e promoção de interesses pessoais ou de majestáticas vaidades, sem respaldo no superior interesse colectivo, os partidos têm de reassumir a sua vertente ideológica e de um sonho político e social que arregimente e cative os cidadãos. Não só de crescimento económico, mas de desenvolvimento humano, recentrando-se no primado da pessoa humana e do livre e justo desenvolvimento da sua personalidade.

Como Walter Lippman disse acertadamente: “quando todos pensam da mesma forma é porque ninguém está a pensar”.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

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