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Artigo de Opinião

Investigador na área da Educação

26/05/2024 07:30

Muito recentemente foi divulgado o Relatório desenvolvido pelo Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis (LABPATS). O LABPATS estuda a saúde e o bem-estar dos profissionais e das organizações, ajudando a definir políticas com impacto na saúde e bem-estar, desenvolvimento saudável e sustentável dos profissionais e das organizações.

De entre várias conclusões, que se podem extrair deste documento, destaca-se o facto de os trabalhadores das gerações mais jovens serem os que sentem menos envolvimento no trabalho. Não obstante, o Relatório conclui que os profissionais mais novos, até aos 29 anos, são justamente os que têm a perceção mais positiva da ética e valores das organizações, do ambiente psicossocial e do compromisso com a liderança, caracterizando-a como assertiva. Ainda assim, são as gerações intermédias (dos 44 aos 59 anos), aquelas que apresentam maior risco de saúde mental. Pode ler-se no documento que para estes profissionais “além de terem de desenvolver o seu trabalho, têm muitas vezes a cargo os filhos e, nalguns casos, também os pais”. Por outro lado, “é uma geração que ainda lhe falta muito para a reforma”.

Tendo em conta a dimensão da organização, as empresas mais pequenas são as que apresentam “indicadores mais positivos ao nível do ambiente de trabalho saudável”.

Já em relação ao setor de atividade, os profissionais que apresentam um maior índice de risco são os da administração pública, os do setor dos transportes e os profissionais de saúde. Numa comparação entre organizações públicas e privadas, o estudo demonstra que são os profissionais das organizações privadas que revelam indicadores mais positivos ao nível do ambiente de trabalho saudável.

Ao tentar perscrutar, em nosso ver, quais os motivos para este desligamento ou desinteresse, encontramos uma panóplia de argumentos, que se podem ligar ao facto de em muitas circunstâncias, em muitas realidades de trabalho, não existir um incentivo ao desenvolvimento de carreiras, não existir oportunidades de aprendizagem, não existir um contacto próximo das chefias procurando saber como é que aquele trabalhador se sente ou está psicologicamente. Aqui, aliás, torna-se, pois, mais do que nunca determinante ouvir os trabalhadores e ter em conta a sua opinião. A verdade, é que, enquanto há alguns anos a gestão de pessoas era orientada para a satisfação, atualmente é cada vez mais virada para a motivação.

Entre nós não existe estudo semelhante, que nos dê uma realidade concreta, mensurável, e apenas podemos avaliá-la pelo empirismo dos contatos que se vão fazendo junto dos trabalhadores. O facto, é que não nos parecem muito longe da nossa realidade laboral aqueles sentimentos, nem o seu impacto.

Como reverso, pode sempre assinalar-se que as consequências se traduzem nos tão propalados riscos na produtividade laboral e, depois, na “fuga” dos talentos em Portugal. Em Portugal, onde o cenário laboral dos jovens trabalhadores nos indica que 1 em cada 6 dos jovens, que procuram emprego, tem dificuldade em encontrá-lo na sua área de formação e, sobretudo, dimensionado à sua habilitação académica. Mais, quando o encontram, 2 em cada 3 tem um contrato a termo. E, depois, 3 em cada 4 jovens têm um salário abaixo dos 950 euros. Ainda, a percentagem daqueles que trabalham mais de 40 horas duplicou nos últimos 10 anos.

A verdade laboral junto dos mais jovens aponta, assim, inexoravelmente, para contratos cada vez mais precários, menos remunerados, e com mais horas de trabalho.

Esta é a realidade que se vem agravando no pós-pandemia. Os riscos, convenhamos, lamentavelmente, detetam-se sem sinais de melhoria naquilo que o Relatório acaba por evidenciar.

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