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Artigo de Opinião

30/06/2023 08:00

"A Madeira não é o finisterra, os confins do mundo ou uma das suas fronteiras remotas. A Madeira é o início do mundo, é qualquer coisa antes da história (…) que resiste e explica a própria história. A Madeira não é uma jangada à deriva no tempo. A Madeira é um útero, um vácuo cósmico onde o tempo não corre, o colo de um vulcão maternal".

Foi desta forma, poeticamente magistral, que o Cardeal Tolentino Mendonça descreveu a nossa terra, em 2017, quando esteve presente no Fórum Madeira Global, na condição de conferencista.

De facto, nós, madeirenses, olhamos para a ilha como se de uma mãe se tratasse. Temos esta relação umbilical, em que atribuímos, ao bocado de rocha, no meio do Atlântico plantado, características antropomórficas e maternais. Essa será, talvez, uma das principais razões pelas quais os nossos emigrantes mantêm laços tão fortes com a sua terra. Saíram da ilha, mas a ilha nunca saiu deles. Acompanha-os diariamente, uma presença constante, um sonho latente.

Amanhã celebraremos, uma vez mais, o Dia da Região. Será um dia de festejos e celebração, mas também deverá ser um dia de reflexão, para nós, autonomistas convictos. Vivemos um ano particularmente importante, em que teremos eleições regionais. Em setembro, iremos escolher os nossos representantes para a Assembleia Legislativa Regional, bem como quem queremos que nos governe nos próximos 4 anos.

Parece evidente que o cenário de bipolarização, que se verificou em 2019, entre PSD-M e PS-M não se repetirá. A gestão da pandemia, o crescimento económico e o boom turístico são "medalhas" que o atual Governo Regional, e a coligação que o suportam, ostentam. Por outro lado, Sérgio Gonçalves é um líder sem plano e sem projeto, mas essencialmente é um líder sem carisma. Não consegue mobilizar, não se consegue projetar, não é capaz de granjear confiança. É mesmo dos mais fracos líderes que até agora lideraram o PS, porque não reúne formação política, não tem consistência ideológica, nem articula discursos e posicionamentos coerentes.

É certo que os que estão mais próximos também não facilitam. E também é certo que o desastre que tem sido o atual governo de António Costa, com trapalhadas, "casos e casinhos", contribuem para o olhar desconfiado dos madeirenses. Isto já para não falar do rancor que o PS nacional dedica à Madeira e aos madeirenses, não contribuindo, seja de que forma for, para a resolução dos principais problemas que nos afetam. Mais, agora até pretendem equiparar as autonomias às Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional, querendo sentá-las no novel Conselho de Concertação Territorial, o organismo onde pretendem articular as políticas de desenvolvimento regional, através da transferência de atribuições de serviços periféricos da administração direta e indireta do Estado. Esquecendo que as autonomias têm órgãos próprios eleitos e que governos falam como governos e que o presidente do Governo Regional tem como exclusivo interlocutor, no Governo da República, o Primeiro-Ministro.

Estas são as razões pelas quais, estou em crer, não haverá bipolarização. Todavia, a pulverização na Assembleia Regional trará novos desafios à mais do que previsível maioria absoluta da coligação PSD/CDS. Porque haverá uma oposição à direita com a qual os governos regionais nunca se confrontaram. Pela primeira vez, haverá quem, na Assembleia Legislativa Regional, vá tentar reivindicar as premissas de direita: no que toca ao combate ao centralismo, à segurança, ao desenvolvimento económico e a defesa da iniciativa privada.

É, por isso, que, em meu entender, este dia da Região deve ser também pretexto para reflexão. Porque se é certo que o contexto político e a configuração na Assembleia Regional irão se alterar, já não é tão certo de que seja para melhor. Cabe-nos a todos decidir que futuro queremos e quais são os partidos melhor preparados para nos guiarem até ele. E depois, agir em conformidade, o que, em democracia, se consegue pelo voto! Colo maternal, ainda que de origem vulcânica, apenas temos um. E, por isso, temos o dever de zelar por ele!

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