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Artigo de Opinião

5/03/2022 08:00

Começando assim, perceberá, desde logo, que este não é um texto rigoroso nem especializado sobre qualquer tema, até porque eu não era especialista nos tempos de COVID (como tantos), nem o sou agora, em tempos de guerra.

Mas são palavras sentidas de quem - mãe, mulher, esposa, familiar - vê, à distância, uma guerra sem razão. Porque não existe razão alguma que justifique a morte, a agressão, a invasão, a barbaridade como à qual, na Ucrânia, assistimos.

Já em "Se Isto é um Homem", Primo Levi, sobre o Holocausto, escrevia que as personagens daquele livro já não era homens porque a sua humanidade está sepultada, ou eles mesmos a sepultaram, debaixo da ofensa que sofreram ou que infligiram a outrem. E hoje, não tão longe assim dessa desolação interior, a humanidade continua a ser sepultada, tingida de sangue e de lágrimas, espancada pela supremacia de um único homem. Porque, acredito, a Rússia não se encerra em Putin.

É por isso que acho que a ideia de casinhas amarelas se repercute Europa fora. Numa procura e garantia de segurança e proteção que são tão necessárias para as famílias ucranianas. Para as crianças ucranianas, em particular, cuja infância lhes parece estar a ser arrancada à força.

Veja-se o exemplo do Teatro Académico Les Kurbas, no centro de Lviv, cuja plateia e palco deram lugar a albergue temporário para refugiados que tiveram de abandonar as suas casas.

Ou, no nosso país, o novo centro de acolhimento de emergência, da responsabilidade da Câmara Municipal de Lisboa, estruturado para responder às necessidades dos ucranianos que para cá venham.

Ou, ainda mais perto, na nossa Região, a estratégia do Governo Regional para os ucranianos que não puderam viajar de volta para Kiev e que, optando por cá ficar, serão ajudados na sua integração, através da atribuição do estatuto de proteção. Medida a que se juntam as honrosas campanhas promovidas por entidades públicas (como a Autarquia do Funchal) e privadas e que mostram que, mesmo num ponto no Atlântico, é possível ser-se casinha amarela.

Enquanto vos escrevo, os dados mais atualizados, da ACNUR - Agência da ONU para Refugiados, dão conta que, em apenas uma semana, mais de um milhão de pessoas já deixou a Ucrânia, estimando-se que o número pode ascender até quatro milhões. Esta crise humanitária pode até superar o número de refugiados vindos da Síria e de outros países do Médio Oriente e Norte da África, o que só pode ser um sinal de alerta para todos nós.

Não há lugar nem tempo ou causa que nos impeça de ser casinha amarela, que nos impeça de dar a mão ao outro, que não nos permita compreender, ser empático e mostrar ao mundo que a humanidade não pode nem será sepultada.

Outros, como os deputados do PCP, que, no Parlamento Europeu, votaram contra uma resolução de condenação à agressão militar russa à Ucrânia ou que, aqui na Assembleia Legislativa, se opuseram ao voto de protesto com o mesmo objetivo, envergonham-nos e terão, um dia, de nos explicar que tipo de humanidade defendem. Já dizia um famoso post de instagram: I see humans, but no humanity.

Que sejamos mais casinhas amarelas. Que abracemos mais. Que façamos parte da solução.

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