A nossa sociedade está a mudar e com essa mudança alguns valores parecem estar a ser invertidos. Vivemos num mundo cada vez mais impaciente, cheio de pressa e de críticas aguçadas, menos empático e compreensivo, com uma necessidade de validação através de likes e visualizações, que parece ser potenciado pelas redes sociais ou o mundo online. O que me faz questionar se precisamos da aprovação, ou gostos, do outro para sentirmos que somos capazes ou valorizados.
Apesar de tudo estar à distância de um clique, sejam compras, mensagens ou chamadas, arrisco-me a dizer que nunca estivemos tão sós, insatisfeitos e distantes uns dos outros. O que nos devia estar a aproximar está a nos distanciar. Curioso, não? E porquê? Será pela nossa utilização excessiva e sem limites? Será pelo stress em que vivemos atualmente? Será por questões de personalidade ou será por algum vazio interior que faz-nos procurar um estímulo prazeroso imediato como forma de compensação?
O nosso cérebro está programado para procurar prazer e evitar a dor. Quando fazemos algo que nos dá prazer, seja comer, receber um “gosto” nas redes sociais, comprar algo muito desejado, o cérebro liberta dopamina, o neurotransmissor associado à sensação de bem-estar, prazer e felicidade. Este sistema, que em pequenas doses é saudável e benéfico para o nosso bem-estar, pode transformar-se num verdadeiro problema, quando libertado em grandes doses num curto espaço de tempo, aumentando a probabilidade do aparecimento de uma dependência, pois todos os prazeres da vida parecem tornar-se banais quando comparados a esta satisfação imediata, afetando o nosso cérebro e alterando o nosso sistema de recompensa.
Nestes casos surge uma necessidade do aumento dos estímulos (tolerância) para que o indivíduo sinta o mesmo prazer e quando esse estímulo falta (abstinência), surge um vazio difícil de explicar, um vazio emocional. É a sensação de que falta algo, mesmo quando aparentemente temos tudo. Muitas pessoas tentam preenchê-lo com consumos de substâncias psicoativas lícitas ou ilícitas, comida, séries, jogos, redes sociais, entre outros. No entanto, o alívio é apenas momentâneo, e logo regressa a insatisfação, o medo, a solidão, a tristeza inquietante e a dor, tornando-se assim num circulo vicioso. Por isso, a procura incessante pelo prazer é, muitas vezes, uma forma de fugir do desconforto interno, de emoções e sentimentos como a solidão, o medo, a frustração ou a insegurança.
Reconhecermos as nossas emoções e os sinais que o nosso corpo e mente dão, são uma estratégia fundamental para sabermos quando recuar, minimizar o tempo que passamos atrás do ecrã, para lidar com emoções mais desafiantes e optarmos por atividades mais saudáveis e quando necessário pedir ajuda.
Por vezes temos de parar e recuar para ganhar.
Olhar para dentro e termos a capacidade e sentido crítico de compreendermos que precisamos de ajuda, pode ser o início do fim dos nossos problemas internos, fazendo com que a procura de prazer não tenha de ser imediata para colmatar o nosso vazio interior.