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Artigo de Opinião

GATEIRA PARA A DIÁSPORA

13/02/2024 08:00

No dia 24 de Janeiro deste ano, aterrava no aeroporto da Madeira um avião da Força Aérea trazendo a bordo magistrados judiciais e do Ministério Público, elementos da Procuradoria-Geral da República e pelo menos duzentos investigadores e peritos da Polícia Judiciária para procederem a buscas relativamente a alegados crimes económico-financeiros e corrupção. No próprio dia, procedeu-se à detenção de três dos suspeitos dos crimes, incluindo o presidente da Câmara Municipal do Funchal, e dois empresários de relevo, bem como à constituição de arguido do presidente do Governo Regional. No dia em que vos escrevo, véspera do Carnaval Trapalhão, os três suspeitos continuam detidos e não é certo que impacto terá tudo isto relativamente ao futuro político na Madeira e em Portugal no seu todo, não só mas também devido ao ciclo eleitoral intenso que começou com os Açores – onde ainda não é certo se haverá aprovação do programa de governo –, passará por eleições legislativas, europeias e eventualmente na Madeira.

Sabemos que 2024 promete ser o ano com mais eleições na história. A New Yorker calcula que está previsto que em territórios onde vive cerca de metade da humanidade decorram eleições para designar – mais ou menos democraticamente – os seus representantes, incluindo a África do Sul, os Estados Unidos, a Índia, a Indonésia, o Irão, a Rússia, o Paquistão – onde dois antigos primeiros-ministros declararam a vitória –, Taiwan – onde ganhou o candidato do partido pró-independência, seguindo-se declarações chinesas de que este resultado não representa a opinião da maioria – e o México. Uma das maiores eleições será precisamente a da União Europeia, em que um estudo do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR) indica uma «viragem acentuada à direita» com partidos populistas e eurocépticos a liderarem as sondagens em nove países.

Na última vez que estive na Madeira, conheci o Diogo. Um vendedor ambulante do Senegal que oficia na Avenida do Mar, no Funchal. Falámos e ele disse-me que como era o seu aniversário me ofertava uma pulseira com um elefante, que era um amuleto – no Natal, eu tinha bebido na casa de uns tios um licor sul-africano, cujo símbolo é o elefante pois é atraído pela árvore africana marula, sagrada para os Rongas, animal esse que pode viajar grandes distâncias para comer o fruto, e tudo se conjugava. Vi que a sua expressão mudou quando disse que não lhe ia comprar uma estátua. Andei às voltas, e comprei-lhe o livro Inverness da Ana Teresa Pereira, que ainda espera, embrulhado, na casa dos meus pais. Inverness significa literalmente a boca do rio Ness, tendo o Diogo estabelecido banca e esperança a alguns passos donde a ribeira de Santa Luzia desagua no Atlântico, e que depois talvez se veja embarcada para o seu Senegal natal. O que pensará o Diogo da decisão do presidente senegalês em adiar as eleições previstas para este mês, acompanhada de um pedido de prolongação do mandato e da repressão dos protestos? O que pensará do que se passa na sua ilha de adopção?

Folheio o n.º 25 da revista Margem, editada pela Câmara Municipal do Funchal, e vejo o portefólio de Rui Camacho – este ano justamente homenageado na 50ª edição da Feira do Livro do Funchal. Numa foto da esquerda, a estátua da Autonomia, que irrompe do chão, e onde há uma multidão de costas viradas para esta, certamente atenta a algo mais importante; à direita, um homem que dorme à entrada de uma igreja. Estamos a saber dar respostas a estas realidades ou tornámo-nos apparatchiks?

Robert Badinter faleceu em 9 de Fevereiro de 2024, mas a memória de quem lutou, também enquanto Ministro da Justiça francês, pela abolição da pena de morte – que apenas sucedeu nesse país em 1981 – e contra a lepenização dos espíritos tem de permanecer!

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