A Justiça russa confirmou hoje a condenação a nove anos de prisão em "regime severo" que tinha sido imposta em março ao principal opositor do regime, Alexei Navalny, julgado por alegadas "fraude" e "desobediência ao tribunal".
"O veredicto do tribunal de Lefortovo de 22 de março não mudou", afirmou hoje um juiz do tribunal municipal de Moscovo, indicando que a pena passava a estar em vigor de imediato.
A sentença proferida em primeira instância ditava que o ativista anticorrupção, que já estava a cumprir uma pena de prisão no chamado "regime normal", fosse condenado a nove anos de prisão em "regime severo", com condições de detenção muito mais duras.
Navalny foi acusado de ter desviado cerca de 25.000 dólares de doações a organizações que fundou, nomeadamente ao Fundo de Luta Contra a Corrupção (FBK na sigla em russo), criado para combater o enriquecimento ilícito de altos funcionários russos e proibido no país em junho de 2021 por a sua atividade ter sido considerada "extremista".
Alexei Navalny apareceu no julgamento por videoconferência, a partir da prisão onde se encontra a cumprir a primeira pena, em Pokrov, a 100 quilómetros de Moscovo, tendo ouvido o veredicto trancado numa cela.
Considerado uma das vozes mais críticas do Kremlin (presidência russa), Navalny está a cumprir, desde fevereiro de 2021, uma pena de prisão de dois anos e meio por outro caso de alegada fraude em 2014.
Chamado a falar antes do encerramento do processo, o opositor do regime do Presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que o "julgamento não faz sentido" e que "despreza o tribunal" e o sistema.
"É claro que não quero ficar nesta cela", disse. "Prefiro ver os meus filhos crescerem. Mas peço às pessoas que não tenham medo, ter medo é um crime contra o nosso futuro", acrescentou.
Navalny foi detido em janeiro de 2021, quando regressava a Moscovo a partir de Berlim, onde passou vários meses a recuperar de um envenenamento, pelo qual responsabiliza Putin.
O Kremlin nega categoricamente qualquer responsabilidade no envenenamento de Navalny, não tendo sido aberta qualquer investigação para apurar as circunstâncias do caso.
Essa detenção (em janeiro de 2021) marcou o ponto de partida para uma ampla repressão a todos os movimentos anti-Kremlin e à imprensa independente do país, medida que tem sido reforçada desde 24 de fevereiro, quando a Rússia invadiu a Ucrânia.
Lusa