Alguns dos principais jornais norte-americanos atribuíram à candidata democrata, a vice-presidente Kamala Harris, uma “clara vitória” no debate de terça-feira contra o rival republicano, o ex-presidente Donald Trump, uma avaliação partilhada por vários analistas políticos.
“Harris, menos conhecida que o ex-presidente, tinha mais a ganhar e o nosso palpite é que ela se ajudou. Ela claramente venceu o debate, embora não porque ela tenha feito um caso poderoso para a sua visão ou o histórico dos últimos quatro anos”, começou por dizer o conselho editorial do Wall Street Journal, diário politicamente mais próximo de posições do Partido Republicano.
“Ela venceu o debate porque veio com uma estratégia para provocar e incitar Trump a perder-se em labirintos de queixas pessoais e vaidades que deixaram as políticas e histórias dela praticamente intocadas”, explicou, num artigo publicado após o confronto.
Para o mesmo conselho editorial, “Trump morde sempre o isco, e Harris armou a armadilha para que ele passasse boa parte do debate a falar sobre o passado, ou sobre Joe Biden, ou sobre imigrantes comendo animais de estimação, mas não sobre como ele melhoraria a vida dos americanos nos próximos quatro anos”.
O debate histórico de terça-feira foi o primeiro entre Donald Trump e Kamala Harris e começou com um raro aperto de mãos, iniciado pela vice-presidente, que se apresentou pelo nome, num lembrete de que esta era a primeira vez que os dois políticos se encontravam pessoalmente. Foi também o primeiro aperto de mãos num debate presidencial desde 2016.
À medida que o debate foi avançando, Trump mostrou-se mais agitado na resposta às provocações da vice-presidente e na repetição de uma série de falsas afirmações: 33 contra uma de Harris, numa contagem do canal de televisão CNN.
Após o debate, o conselho editorial do jornal Washington Post observou que os dois candidatos subiram ao palco com necessidades urgentes diferentes: Kamala Harris precisava de mostrar aos eleitores quem era e Donald Trump precisava “de esconder” do eleitorado as suas características.
“Apenas um conseguiu. (...) Kamala Harris venceu no tom e na substância”, defendeu o conselho editorial do Washington Post.
Enquanto a candidata democrata apresentou uma visão positiva para uma nação, o magnata republicano retratou uns “Estados Unidos fictícios, como uma ‘nação fracassada’, oscilando à beira da ‘Terceira Guerra Mundial’, na qual o crime está a aumentar”, recordou, fazendo um contraste entre os candidatos.
“Essa poesia de campanha ainda terá que ser traduzida em prosa política. Mas Kamala fala mais eloquentemente sobre a posição e o potencial do país do que a retórica mais sombria de Trump”, conclui o artigo.
O influente New York Times - que em junho apelou a Biden que se retirasse da corrida à Casa Branca - pediu a 14 colunistas e redatores para assistirem ao debate presidencial entre Kamala Harris e Donald Trump e avaliarem quem ganhou.
Apenas um deu a vitória ao magnata republicano.
Para Binyamin Appelbaum, membro do conselho editorial do jornal, foi Kamala Harris quem venceu, porque conseguiu manter Trump “na defensiva por boa parte da noite e foi eficaz em comunicar que Trump é perigoso e ridículo”.
“Esta foi uma vitória clara para Harris. Ela provocou Trump, refutou e desmascarou-o e ainda ofereceu uma mensagem e visão positivas para o futuro da América. Trump trouxe escuridão; Harris trouxe luz”, advogou o colunista Charles M. Blow.
Por outro lado, para Daniel McCarthy, colaborador do New York Times e editor do periódico Modern Age, Trump venceu “ao marcar posição como candidato ‘outsider’”.
“Ele enfatizou a sua disposição de demitir autoridades que tiveram um mau desempenho, enquanto Harris se gabou de uma longa linha de republicanos do ‘establishment’ que a apoiaram, incluindo Dick Cheney [ex-vice-presidente]. Se Washington precisa de uma mudança profunda, ela não virá da vice-presidente”, defendeu McCarthy.
Na madrugada de hoje, logo após o debate, especialistas políticos, analistas e comentadores notaram que Donald Trump frequentemente se colocou numa posição defensiva em questões como aborto, enquanto se deixou levar pelas provocações de Kamala Harris, desviando-se da mensagem que queria passar.
Estrategas e figuras democratas de relevo aplaudiram o desempenho da vice-presidente, enquanto vários republicanos reclamaram do tom das perguntas dos moderadores e reconheceram as oportunidades perdidas por Trump de focar-se num ataque direcionado.