A atual crise económica está intimamente ligada à energia. Mas as crises possuem uma natureza cíclica e também previsível, pelo que podem ser antecipadas, geridas e ultrapassadas. Esta foi a mensagem deixada hoje pelos oradores convidados para o segundo dia da 9.ª Semana da Economia e Gestão - Desafios da atualidade, que decorreu na Sala de Sessões da Escola Secundária Francisco Franco, no Funchal.
A agressão militar da Rússia contra a Ucrânia, há pouco mais de um ano, contribuiu decisivamente para o aumento generalizado dos preços das matérias-primas que são utilizadas nos mais variados setores de atividade, um cenário que se repercutiu negativamente no quotidiano de famílias, empresas e estados.
Mas não há crise se dure para sempre. Melhores dias virão, pelo menos até ao surgimento da próxima crise, observou George Lima, Diretor Comercial e de Empresas do Banco Santander, que abordou o tema: Mercados financeiros, que desafios?
George Lima lembrou que a História da Economia nos últimos 100 anos, do ponto de vista do que é a evolução das crises, revela que estas "são cíclicas" e que possuem "fatores previsíveis" que "podemos realmente acompanhar, antecipar e gerir de umas crises para a outras".
"A crise atual é semelhante a outras que tivemos. Ainda assim, traz-nos problemas e desafios para resolvermos", lembrou o orador, sublinhado que "por não ser uma coisa nova, permite que possamos saber como gerir e como ultrapassar", ou seja, "desafia-nos a todos a fazermos o nosso papel, desde os particulares às empresas e ao estado, e obviamente aos bancos".
O responsável do Banco Santander chamou a atenção para o facto de a "economia ser feita pelos comportamentos das pessoas, individuais e coletivos, e esses comportamentos podem de alguma maneira ser antecipados, embora não completamente determinados, sendo este desafio".
"Eses comportamentos podem ser antecipados e de alguma forma conhecidos, temos ferramentas para em conjunto ultrapassarmos os desafios e as fases más, que sabemos que são cíclicas, e percebermos que, assim como é um bocadinho também na vida, depois de fases más vêm fases boas. Mas temos todos de trabalhar para isso", reforçou, apelando ao aprofundamento deste tema por parte dos alunos.
O mercado energético regional centrou a intervenção de José Filipe Oliveira, Presidente da Agência Regional da Energia e Ambiente da Região Autónoma da Madeira (AREAM), tendo o responsável destacado a importância de sermos "nós a gerir e produzir energia que consumimos".
Para José Filipe Oliveira, o mais importante no presente "é compreender que a energia é um recurso esgotável, um recurso precioso, que toda a economia e todas as atividades humanas estão muito ligadas, e que qualquer flutuação nos preços da energia, por muito pequena que seja, tem um impacto muito grande em tudo, a começar pela economia e depois na vida das pessoas".
"Nós não conhecemos o cenário de falta de energia. Conhecemos o cenário da energia mais cara, que já é bastante difícil, mas o cenário de rotura do abastecimento de energia é um cenário que nós temos de equacionar e de nos defendermos", alertou o responsável, defendendo a necessidade de "sermos resilientes e de encontrarmos soluções para que, no caso concreto da Madeira, sejamos mais resilientes em relação à energia, menos dependentes do preço da energia nos mercados internacionais e para que possamos produzir a nossa energia."
O responsável da AREAM não tem dúvidas em afirmar que "este é um dos aspetos mais importantes para o nosso futuro: nós gerirmos e produzirmos a energia que consumimos"
Neste sentido, o aproveitamento das energias renováveis "é fundamental neste desafio. A eólica é importante, mas a energia que nós podemos produzir em casa e nas empresas, como é o caso da solar, é determinante", indicou, explicando que se trata "duma energia que tem evoluído muito e que está neste momento a preços bastante acessíveis, e com soluções técnicas bastante boas".
"Naturalmente que o solar é para durante o dia, pelo que também precisamos de energia durante a noite. Mas já existem soluções de armazenamento que podem ser adotadas para guardar energia para consumir durante a noite", disse, observando que as "baterias de armazenamento ainda são caras relativamente aos painéis solares", mas espera-se "que no futuro será mais acessível ter um sistema de autoconsumo em casa".
Raul Caires