Ao JM, Ruben Afonso e Jeroen Vennik reconheceram a importância de mesmo os surfistas continuarem a apostar na sua formação caso seja necessário intervirem em situações de emergência.
Jeroen Vennik, natural de Amsterdão e residente na Madeira há dois anos, foi um dos surfistas que ajudou a prestar socorro a dois turistas aflitos no mar de São Vicente há algumas semanas. Ao JM, o surfista holandês, juntamente com Ruben Afonso, surfista profissional madeirense e dono de uma escola de surf na Região, alertou para a importância de desenvolver iniciativas e ações de formação e sensibilização que ajudem quer quem visita o arquipélago, quer os locais a navegar nas águas madeirenses em segurança.
Falando por experiência própria, Jeroen Vennik garante que mesmo conhecendo bem as ondas, não deixa de se fazer acompanhar por alguém que o possa socorrer caso necessário. “Se vou surfar na Fajã da Areia, gosto de estar com alguém como o Ruben. Não vou sozinho, quando as ondas estão grandes. A Madeira é de grande nível para surfar e é para surfistas experientes. É o Havai da Europa. O Seixal, Porto da Cruz e Machico são alguns dos lugares onde se pode surfar enquanto principiante às vezes, mas apenas com um professor”, contou.
Também Ruben Afonso salienta que tem sempre a preocupação de se preparar para situações de emergência. “Tenho o privilégio de conhecer alguns surfistas de ondas grandes e trabalhamos muito nessa parte do salvamento aquático. As pessoas surfam ondas gigantes e nos últimos anos não tem havido acidentes, porque já houve um melhoramento nessa parte. Devíamos seguir esses exemplos”, disse.
Nesse sentido, ambos os desportistas sublinham que é importante continuar a apostar em campanhas de prevenção e sensibilização sobre os comportamentos e cuidados a ter no mar e, em especial, em situações de emergência.
“Muitas vezes estamos a ver e esquecemo-nos de pedir a tal ajuda. Há os bombeiros, a polícia, os SANAS, a Polícia Marítima…. Todos podem fazer o trabalho de salvamento, mas só o simples facto de chamar ajuda já estamos a encurtar o processo”, sublinhou Ruben Afonso. Já Jeroen Vennik realçou que dada a situação epidemiológica atual muitos surfistas europeus vão começar a visitar mais para a Madeira, em vez de rumarem a destinos mais longínquos, como a Indonésia ou a África do Sul. “Há medida que mais turistas venham cá, mais acidentes vão acontecer e esta é altura para agir”, alertou o desportista holandês.
Segundo os surfistas, este tipo de iniciativas era algo que as escolas de surf da Região estariam dispostas a desenvolver em colaboração com o Governo e outras entidades, considerando que tal poderia ser um projeto interessante. “Acho que era uma aposta forte. Devia haver abertura de ambas as partes para tentar fazer algo do género”, disse Ruben Afonso, mais acrescentando que tais ações deviam ser promovidas junto dos turistas, mas também dos mais jovens em escolas e instituições ligadas ao meio aquático, já que o surf é uma modalidade que atrai cada vez mais praticantes.
“Mesmo nós, surfistas, precisamos de treino, cursos e de programas para ajudar pessoas no oceano. A nível mundial, muitas vezes as pessoas só são salvas porque a primeira ajuda é de um surfista ou de um nadador salvador. Somos muitas vezes os primeiros agentes num salvamento. Portanto, também precisamos de ter essa formação”, frisou Ruben.
A isto, os surfistas acrescentam ainda a importância da sinalização dos perigos e das ondas em geral, esclarecendo questões como os ‘agueiros’ [zonas/correntes de mar perigosas], que são informações que podem ser úteis sobretudo para quem se aventura nas águas madeirenses pela primeira vez. Para além do mais, entendem ser também necessário proceder a outras melhorias para garantir a segurança dos utilizadores do mar, nomeadamente ao nível dos acessos. “O turismo e o Governo tendem a promover as ondas e o destino Madeira como um destino surfistas de altas ondas, mas falha em criar acessibilidades para surfarmos em segurança”, rematou Ruben Afonso.
Por Edna Baptista