MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

ÀS VEZES VOO. ÀS VEZES CAIO

Jornalista

30/01/2025 08:00

Há um corpo inteiro suspenso sob a minha cabeça, um corpo que consegue sonhar com o tempo que foi deixando de ser absoluto. Há agora um corpo cheio de um tempo definitivo, que se inclina sobre a mesa como quem investe num abismo benigno, numa flor exasperada sobrevoando a sombra primordial, revelada apenas na flagrância de nos consentirmos temporários e intervalares.

Abro a minha mão direita e nasce-lhe um novo espinho; de alguma forma o corpo é infinito, à semelhança da beleza, que se recompõe, sem uma ordem, na sua própria finalidade. Só nós nos vemos por dentro, o outro será sempre incapaz de construir-nos nessa nudez que é um animal, um vento impenetrável que sopra contra nós. Nem sempre profundo, porém fundamental.

Abro a minha mão esquerda sem que mais um espinho me traga o fulgor de antes. No entanto, é precisamente esse que me falta, um crivo simples para poder indagar o sonho, a língua e o medo. Quase tudo em nós é insondável, ainda que uma bruma nos invada para que o tempo exista e se aprofunde em lugares que desconhecemos, para esculpir a ilusão da eternidade, um presente inabalável a que, às vezes, chamamos esperança. O resto é e será sempre do domínio da invisibilidade, até as minhas duas mãos, que, hoje, são possíveis e permanentes enquanto escrevo. Todo o assombro é íntimo e para sempre indizível, o que nos rege é o desejo profundíssimo de absoluto, como se o impossível fosse um fim em si mesmo, numa noite ao acaso em que um pássaro nos vem esgravatar o coração.

Talvez seja isso o absoluto, um corpo inteiro que será sempre belo, mesmo que velho e fustigado. Um só erro para erguer o mundo à altura do mar, como se o princípio fosse afinal a derradeira língua de um Deus fundado nesse corpo. O mistério dos mistérios, ou um espinho novo por brotar em cada mão.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

Ver todos os artigos

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Qual o valor que gastou ou tenciona gastar em prendas este Natal?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

Últimas