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Artigo de Opinião

Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira

21/11/2024 08:00

A violência doméstica é um grito abafado que ressoa no silêncio de lares que deviam ser refúgio, mas se tornam prisões. É um ciclo de dor que rouba a dignidade, corrói a alma e apaga o brilho de quem um dia acreditou no amor. Mas é preciso dizer: não estás sozinho.

Para quem sofre, é importante entender que a violência raramente começa com grandes atos. Muitas vezes, surge de forma subtil: um tom de voz elevado que te faz encolher, uma crítica constante sobre a roupa que vestes, um controlo do teu telemóvel ou dos teus passos. Pequenas atitudes que podem parecer insignificantes no início, mas que são sinais de alerta para algo maior. Não ignores o desconforto que sentes. O amor verdadeiro não te diminui, não te controla, nem te faz viver com medo.

A violência nunca será uma prova de amor, nem um fardo que tens de carregar. Não és culpado por esta dor. Mereces respeito, liberdade e paz. Mereces ser ouvido, acolhido e protegido. É essencial reconhecer que nada compensa o sofrimento. As mudanças prometidas por quem te agride raramente são verdadeiras, e prolongar essa espera só aumenta o dano. Encontrar coragem para sair de uma relação violenta pode parecer impossível, mas o primeiro passo é reconhecer que és digno de um novo começo. Existem mãos estendidas à tua espera – aceita-as. A tua vida vale mais do que qualquer medo ou culpa que te paralise.

E para quem é o agressor, é tempo de olhar para dentro. O poder que exerces sobre o outro é, na verdade, o reflexo de uma luta interna que precisas enfrentar. Ferir não é amar; controlar não é cuidar. O primeiro grito, a primeira crítica, o primeiro ato de controlo são os tijolos que constroem a prisão onde ambos ficam presos. Reconhecer os teus atos e procurar ajuda é a única forma de quebrar este ciclo destrutivo. O amor não pode nascer da dor que provocas. Libertar-te dessa necessidade de dominar é também libertar a outra pessoa – e a ti próprio.

A violência doméstica não escolhe idade, género ou classe social. É um problema humano, e a sua solução começa com cada um de nós: com a coragem de denunciar, a empatia para acolher, e a vontade de mudar. Quebrar este ciclo é um ato de amor, de humanidade e de esperança. Porque a violência nunca será a resposta. O respeito, sim.

Se estás a sofrer, ou a causar sofrimento, lembra-te: há sempre um caminho diferente. Há sempre uma luz, mesmo nos dias mais escuros.

Ama, mas sem ferir. Liberta-te, mas sem destruir. E nunca ignores os pequenos sinais – porque viver em plenitude é um direito de todos.

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