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Artigo de Opinião

Psiquiatra

11/12/2024 08:00

Aproxima-se uma das épocas festivas principais do ano e esta em particular, traz-nos habitualmente muitas reflexões. Seja pelo princípio espiritual que nos guia ou simplesmente pela mudança do ano civil, a maior parte de nós tende a refletir sobre o que se passou e o que tem pela frente.

As grandes reflexões fazem-se sobre o sentido da vida, do mundo no geral. Assistimos a mais um ano cheio. Muito se poderia escrever sobre as coisas boas e más que se passaram este ano e de como afetaram cada um de nós, mas para que serve enumerar, se as reflexões que surgem são vazias?

Vazias do sentir profundo transformador. Daquele que torna inevitável conduzir a nossa vida de outra forma, em que o inaceitável não tem lugar para se repetir e um princípio renovador entra dentro de nós, mutando-nos e criando uma nova direção para a nossa vida.

Este é o desejo do Natal, que o passado seja esquecido, que na nova semente para o novo ano venha a esperança para a solução dos problemas. O que falha é que não há soluções na esperança, apenas um adiar do problema. A esperança é o sentimento mágico que o tempo vai encontrar uma solução e muitas vezes encontra. Porque o esquecimento é a melhor solução para grande parte dos problemas humanos. Esquecemo-nos porque é que as guerras começaram e só queremos que acabem. Esquecemo-nos porque é que os problemas familiares começaram e abraçamo-nos todos no Natal. Para os recomeçar no ano seguinte, como ratos numa roda...

Precisamos de perder a esperança numa solução futura e trabalhar nas soluções no presente. Acreditar que é possível resolver um problema é uma boa forma de esperança, quando estamos de facto empenhados em resolvê-lo. Quando temos esperança de que alguém vai resolver os nossos problemas por nós, esse é o mau tipo de esperança. É a perversa esperança da solução externa. Como é que se equilibra a necessidade de desenvolvermos soluções por nós e criar resiliência, dos momentos destrutivos em que sem ajuda externa podemos perder tudo? Da minha experiência da saúde mental, é difícil. É preciso muita sensibilidade e com a capacidade de voltarmos atrás a qualquer momento.

Curiosamente aquilo que torna uma pessoa boa a fazer o seu trabalho, pode complicar outras áreas da sua vida, como colocar em causa decisões, projetos e outras coisas. Em todas as profissões isto acontece. O que nos torna bons numa determinada área, enfraquece-nos as outras. Uma pessoa que trabalha com a sensibilidade, fica demasiado sensível. Outra que trabalha com a segurança, fica demasiado autoritária. E o equilíbrio para conseguirmos manter as várias áreas da nossa vida em equilíbrio, torna-se difícil.

Neste Natal, espero que as nossas reflexões possam ser o combustível para guiarmos a nossa vida à procura das soluções necessárias e a capacidade de as implementarmos. Espero que se consigam encontrar soluções no diálogo e na compreensão das diferentes partes e terminar os conflitos armados por armas e não só. Porque as palavras são demasiadas vezes armas e poucas vezes soluções.

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