MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

4/03/2021 08:01

O dizer NÃO é, para mim, a maior manifestação da liberdade e igualdade de género! NÃO ao que não queremos ser ou fazer! Mas as mulheres ainda são educadas para o sim, confunde-se até de modo manipulatório o sim com o amor!

A minha mãe, antes de casar (casou em 1966) e devido ao facto de ter a sua mãe muito doente, teve a "conversa de mulheres" da altura, com uma senhora da zona. Ouviu que: "O que se passa entre marido e mulher só diz respeito aos dois, não se conta a ninguém. Nunca deves dizer NÃO ao teu marido, ele é que manda. A tua vida a partir de agora é ele e os filhos que vais ter!"

Quem foi esta senhora? Segundo a minha mãe, morreu já viúva, no seu funeral, o padre descreveu-a como uma "Santa Senhora" porque era calada e sempre "dentro da sua casa", aguentou os grandes maus tratos que sofreu do marido.

Esta senhora foi homenageada pelo "sim", tendo tido uma vida de muita dor/sofrimento provocada pelos abusos físicos e psicológicos (normalmente isto reduz a esperança de vida). Imagino até que só teve paz e liberdade quando ficou viúva.

Esta história foi um modo da minha mãe me educar para o NÃO, contrariando os conselhos que recebeu. Mas quantas mulheres ainda são educadas para o sim? E quantas gritam NÃO e não são ouvidas ou respeitadas?

Se formos ler estudos recentes sobre violência doméstica, avaliando mulheres que já foram vítimas, a crença "carrega a tua cruz/sacrifício é virtude" está muito presente nas mulheres avaliadas. Ou seja, a educação para o sim está presente neste século. Avaliando as filhas e os filhos de vítimas de violência doméstica, foi observado que os rapazes não tendem a repetir a violência (quebram o padrão), as filhas, pelo contrário, tendem a ter companheiros agressores como o pai delas. Ou seja, as filhas mantêm a tendência para o sim das mães.

Quando não existe o NÃO interno ou este não é respeitado e ouvido, a sociedade tem de agir. No Chile, anos 60 e 70, em aldeias pobres, sempre que se ouvia gritos de vítimas de violências dentro das suas casas, as vizinhas juntavam-se e vinham para a rua bater panelas em grupo, para assim assustar e parar o abusador.

O BE conseguiu que a violência doméstica se tornasse crime público, outro modo de bater panelas. O padre, o vizinho, o profissional de saúde, e etc. já podem denunciar e proteger quem ainda não consegue dizer NÃO, ou se quando diz, não é respeitada e ouvida!

Sim ou NÃO? São jogos de poder! Triste mas real.

A mulher emancipou-se e conseguiu alguma liberdade financeira. Mas a maioria ainda não consegue sustentar-se sozinha, principalmente se tiver filhos. É aqui que entram muitas vezes os jogos de poder, fazendo da mulher vítima.

Uma em cada três mulheres sofre algum tipo de abuso. Por isso espanta-me as mulheres que ainda criticam a existência do dia da mulher. Será sempre um dia para homenagear/relembrar as lutas pelos nossos direitos, gritando a sua continuação. Hoje falei do direito ao NÃO! É preciso mais igualdade, com "bater de panelas" e míopes com óculos, para o NÃO poder ser usado em liberdade.

OPINIÃO EM DESTAQUE

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Concorda que Portugal deve “pagar custos” da escravatura e dos crimes coloniais?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

Últimas