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Artigo de Opinião

5/04/2024 08:00

Não só em Abril se pode falar de Abril, mas a verdade é que este é o mês que nos recorda o que a Revolução nos trouxe e o que Novembro consolidou.

Para as gerações mais novas, os nossos direitos, mais do que adquiridos, são já garantidos e de total usufruto. Não diria que assim se os olham por egoísmo, mas, na maioria das vezes, por distanciamento histórico.

Se aprofundarmos o assunto e nos recordarmos da vida da mulher antes de 1974, facilmente concluímos que muito mudou.

A mulher conseguiu deixar de ser “portuguesa de segunda”, mas até esse estatuto, que era atribuído aos nascidos nas colónias e que terminou em 1950 para os homens, permaneceu intacto, para elas, até 1976.

“Não há coisa comparável, em termos históricos, à discriminação sobre as mulheres, que até são a maioria da população. E este silêncio sobre a realidade brutal da discriminação também explica que se reaja tão mal à palavra feminismo. Como se não fizesse sentido”, disse a historiadora Inês Pimentel.

Se é um facto que o 25 de Abril permitiu que o “estatuto da mulher em termos jurídicos” se alterasse, não deixa de ser um facto também que muito falta ainda para se atingir a desejada igualdade.

É por isso que o feminismo continua a ser fundamental na vida da sociedade e ele, enquanto conceito associado à igualdade de género, não tem donos e não tem cor partidária. Não tem porque deve ser missão de todos, não tem porque não é refém de vontades histriónicas, não tem porque se o que se procura é, ainda, a liberdade, jamais se pode restringir esta causa a meia dúzia de mentes pensantes.

Aliás, perante essa repetida tentativa de apropriação - do termo e da causa – recuso a calar-me. Fi-lo na última sessão da Assembleia Municipal do Funchal, diante do descaramento do PS, e fá-lo-ei sempre que for preciso. Fá-lo-ei em nome da causa, fá-lo-ei por todas as meninas, raparigas e mulheres que ainda não vivem na plenitude dos seus direitos, fá-lo-ei por uma inequívoca igualdade de oportunidades.

Recordemo-nos que, antes de Abril de 74, nós, mulheres, não poderíamos viajar para o estrangeiro sem autorização dos nossos maridos. Ir à escola, votar, trabalhar, divorciar-se, abortar, sonhar, era uma realidade distante e inatingível.

Hoje, de acordo com um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, precisaríamos de um dia com 29 horas para conciliar melhor a profissão, os filhos e a família. Isto somado ao facto de, apesar de representarmos quase metade da chamada força de trabalho, sermos quem mais acumula o emprego com as tarefas domésticas.

É verdade que muito mudou. Mas não tenhamos dúvidas: é preciso mais. Em Abril ou em qualquer outro mês, as conquistas devem servir-nos de alavanca, nunca como travão.

Todos nós, que, de alguma forma, temos uma participação cívica mais ativa, temos de sensibilizar e potenciar políticas públicas que promovam uma melhor conciliação da nossa vida pessoal, profissional e familiar. Temos a missão de congregar todos.

Porque somos todos precisos, como tão bem se ilustra nesta deliciosa conversa entre mãe e filha, escrita por Ana Cristina Pereira, no “Mulheres - Uma revolução dentro de casa”, que partilho convosco para terminar.

«– Ele cuida muito bem da sua filhinha – comentou a minha mãe.

– É um homem moderno – anuí.

– Ele cuida mais que muitas mães. Ele faz tudo. Ele não fala alto. A criança não treme com medo do pai. E assim uma mãe pode ir trabalhar descansada e deixar a sua filhinha com o pai.

– A igualdade não se constrói sem a participação dos homens».

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