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Artigo de Opinião

silviamariamata@gmail.com

14/01/2024 08:00

Às vezes faz bem sair de casa para arejar a cabeça. Que isto de estar sempre com o rabo à porta até faz mal às ideias. Mas para onde pode ir uma pessoa com esta carestia de vida? Ainda por cima com a lapinha por desmanchar e as espeguilhas e mais aqueles cacos e caquinhos todos para embrulhar e meter nos caixotes e atafulhar tudo p’ra lá p’ró sótão, que já não há o telheiro de meu pai. Estava eu nestes pensamentos, quando minha prima me telefonou.

“Olha, vamos dar uma volta!” Lá fomos rumo a Machico! Mas estava muito vento e a chover! Pegámos em nós e fomos para a Calheta! Eu é que ia a conduzir! Em chegando, depois daquela estrefega toda, fomos petiscar! A minha prima disse assim: “Eu vou pagar isto, porque tu trouxeste o carro!” Bem visto! O desengraçado é que o cartão de débito dela não passou naquela maquineta! Tivemos sorte, porque eu tinha dinheiro! Deus faz as coisas bem feitas, muito obrigada! Mas uma pessoa passa por cada cagaço só por ir espairecer os olhos.

A minha prima tinha levado um livro de poesias e prosas desengonçadas de Adília Lopes! Então dizia mais ou menos assim uma: Quando a minha mãe era criança foi fazer um exame qualquer, que eu agora já não me lembro, e pediram para escrever sobre o tema da água! Ela escreveu que tinha havido uma enchente e um tsunami na sua terra! Deus nos acuda! Teve má nota, porque aquilo era tudo mentira e ela devia era ter falado sobre os descobrimentos portugueses que metem muita água! Bem visto! Pois está claro! Quem manda ser tonta? Aquela cá ficou! Depois de adulta, essa mesma pessoa foi fazer exame de admissão para o Magistério Primário!

A redação era sobre o Infante Dom Henrique! Seguindo a lógica do passado, a examinanda quis ser honesta e falar a verdade e escreveu que o Infante tinha procedido mal ao deixar o seu irmão, o mártir Infante Dom Fernando, morrer às mãos dos mouros! Teve má nota, porque estas coisas não se dizem do Infante Dom Henrique! Bem feito! Queres te armar em esperta? Aprende! Ou ainda não percebeste?

Depois, eu lembrei-me duma tontice: Um dia tive um pintor atontalhado em casa que disse que na igreja de São Vicente na ocasião das ladainhas, duas vizinhas falavam uma com a outra e ninguém percebia bem aquela entoação de conversa, porque era tudo no mesmo tom da cantoria! Então, a vizinha do banco de trás perguntava alto à vizinha do banco da frente: “Senhora Agostinha, em que bicho é que deu?” “Deu na avestruz, a vizinha perdeu!”, respondia a outra da frente, na mesma entoação da ladainha! Se esta história é verdadeira, eu não sei, mas que foi assim que ma contaram, lá isso foi.

E estávamos nestas conversas tontas, quando fomos buscar aquela canção religiosa que dizia “Stella matutina” e o povo cantava em altos brados “estrela na cortina”!? Não é lindo?

De regresso a casa, viemos a cantar canções das “Doce”, que tristezas não pagam dívidas e foi muito bom. Ficou combinado que para a próxima vamos ao Poiso tomar um café de cevada ou o que for.

E assim o desmanchar da lapinha ficou para outro dia. Bem fazia minha mãe que não queria cisqueira dentro de casa no Natal para depois não ter de ser ela a limpar. Nem sequer cedro nas jarras, para não ter de lavá-las no fim. Vendo bem, o cedro é mais lindo na própria árvore! Não é? E que pena é jogar o triguinho fora e o alegra-campo e todas as verduras esgaçadas e roubadas à Natureza só para se enfeitar a casa no Natal. Até o galo da canja do Natal é mais lindo no galinheiro do que dentro da panela! Não é?

Enfim, histórias atontalhadas...

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