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Artigo de Opinião

Subdiretor JM

24/08/2024 08:05

O fogo lavra na Madeira há onze dias. Uma eternidade que acabou por abrir espaço a infindáveis opiniões de cidadãos preocupados.

Alguns arriscam mais do que outros e acreditam piamente que o cenário seria distinto – melhor – se fossem adotadas medidas diferentes.

Portanto, se as serras estão a arder, as explicações são como os chapéus: há muitos e até podem ser usados todos de uma vez.

Juram que será consequência da falta de estratégia de ordenamento do território. Ou do facto de não haver gado para controlar as zonas de mato. Ou até porque não há fiscalização adequada. Ou mesmo porque as penas para os pirómanos são demasiado leves. Ou porque a ajuda de Lisboa só chegou um dia depois de ter sido disponibilizada. E assim por diante.

Ignoram, todavia, que sempre houve incêndios na Região num passado mais ou menos distante. O que não existia eram redes sociais para aumentar o ruído em torno de determinados acontecimentos, como os que estão a condicionar o pensamento de muito boa gente.

Da esquerda à direita, passando pelo centro da ideologia política, onde o meio termo é uma miragem, só há quem esteja a favor ou contra. Os ponderados não vão para a ‘net’. Não se ouve ou lê comentários que valorizam determinada medida do Governo, que poderia ser acompanhada de outra qualquer proposta da oposição. Os extremos não se tocam. Dizem que isso é boa política. Talvez. Mas não será boa para quem usufrui das políticas, dizemos nós.

Os extremos estão, isso sim, cada vez mais extremados em função do insulto fácil e da demagogia barata de quem deveria oferecer orientações e soluções para o futuro da Região.

Não se estranha, por isso, a indignação crescente que assistimos. Da população que quer a ajuda que não chega. Dos empresários que veem em perigo o seu sustento. Dos agricultores que perdem terrenos sem fim. Dos bombeiros e polícias que procuram o mínimo dos mínimos: reconhecimento do seu esforço. Ou dos ambientalistas, que assistem desolados ao avançar das chamas em áreas que queriam protegidas.

Também os jornalistas, que tentam se limitar a relatar factos, a descrever acontecimentos e a dar voz aos protagonistas, têm razões de queixa por estes dias.

Porque a notícia, quando tem como fontes titulares de cargos públicos que deveriam produzir informação fidedigna, chega por vezes sombria e facciosa. Está, pois, também a arder o crédito de quem tem o dever de prestar depoimentos corretos – ou no mínimo não desorientar quem procura a verdade –, contribuindo para melhor esclarecer a população.

Desenganem-se, todavia, os que julgam que nos deixamos (im)pressionar por quem se preocupa apenas em ficar no melhor plano da fotografia. Aproveitamos, fruto de anos de experiência, para avisar os que procuram as fotos mais ‘instagramáveis’ do universo político que o cenário tende a ficar cada vez mais deteriorado com o passar do tempo. Porque se à primeira caem todos... à segunda a conversa já muda de figura.

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