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Artigo de Opinião

16/09/2024 07:40

A geração que nasceu antes da década de 90 viveu numa realidade onde o tempo tinha um ritmo diferente. O mundo era mais lento, não só porque as tecnologias eram menos desenvolvidas, mas também porque a vida, no geral, exigia paciência. O simples ato de comunicar, por exemplo, era bem distinto: cartas levavam dias ou semanas para chegar, e mesmo o telefone fixo limitava as interações. Esperar fazia parte do quotidiano e havia uma aceitação natural de que tudo tinha o seu tempo. Esse compasso mais desacelerado permitia uma convivência maior com a reflexão e o amadurecimento dos processos. Havia tempo para observar, pensar e, finalmente, agir.

Entretanto, com a revolução tecnológica dos anos 90 e que se intensificou com o advento da internet, tudo mudou. A comunicação tornou-se instantânea, e com ela, as expectativas das pessoas. Mensagens que antes levavam dias para chegar, agora são entregues em segundos. A globalização e a conectividade abriram portas para o conhecimento imediato e ilimitado. A capacidade de aguardar por respostas foi sendo substituída pela necessidade de respostas imediatas. Essa aceleração, por sua vez, transformou a paciência num bem escasso.

Hoje, vivemos na era da satisfação imediata. Queremos tudo para ontem: compras online, filmes sob demanda, respostas instantâneas. Essa mudança não é apenas tecnológica, mas psicológica. A ansiedade pela resposta rápida, pela nova notificação, pela satisfação imediata tornou-se uma constante. As pessoas, especialmente as gerações mais novas, demonstram uma crescente aversão à espera e à frustração, o que afeta diretamente a capacidade de lidar com desafios, a resiliência e a tolerância a processos mais lentos, como a aprendizagem ou a conquista de objetivos de longo prazo.

O impacto disso na sociedade é visível. Há um aumento na sensação de impaciência generalizada, e muitos se sentem desconectados da realidade mais profunda, presos num ciclo de estímulos superficiais e imediatos. Relações interpessoais podem se tornar mais frágeis, pois exigem um investimento de tempo que nem todos estão dispostos a fazer. A rapidez com que tudo acontece gera, paradoxalmente, um sentimento de vazio e de insatisfação constante.

Faço esta introdução para percebermos hoje o momento do Marítimo. Não há, creio eu, adeptos hoje mais insatisfeitos (para não usar outros termos mais fortes) com o que o clube tem vindo a produzir dentro das quatro linhas. E com razão atente-se.

Porém, o Marítimo é, de facto, um exemplo claro da impaciência que muitas vezes domina o mundo do futebol. Nos últimos quatro anos, o clube viu passar três direções e cerca de sete ou oito treinadores, uma instabilidade que reflete a pressão constante por resultados imediatos. No futebol, onde os resultados desportivos são o principal termómetro de sucesso, a ausência de vitórias leva frequentemente a mudanças drásticas e repentinas. No entanto, o problema não parece estar apenas nas escolhas técnicas ou na gestão desportiva, mas também numa cultura de falta de paciência e incapacidade de esperar pelos resultados a longo prazo, particularmente aqueles que são relevantes para garantir que o clube possa ter o sucesso desportivo que todos querem.

A derrota recente em casa frente ao Alverca é um bom exemplo de como a pressão rapidamente escala para níveis insustentáveis. Mal soou o apito final, já havia vozes a pedir a saída da direção e mudanças radicais na equipa técnica que acabou de chegar e despachar mais uns quantos jogadores. A crítica fácil e a vontade de colocar todos no olho da rua revelam um clima de ansiedade e impaciência que não favorece a estabilidade necessária para que os resultados apareçam. E esta mudança constante cria um ciclo vicioso. Sem tempo para implementar uma visão clara e uma estratégia a longo prazo, qualquer treinador ou direção que entre no clube fica imediatamente sob pressão para apresentar resultados rápidos, o que raramente acontece.

O Marítimo, com a sua rica história e enorme base de adeptos, precisa de reencontrar o equilíbrio. A impaciência é compreensível, dado o desejo legítimo de ver o nosso clube nos seus melhores momentos, mas a constante mudança raramente leva ao sucesso. Talvez seja tempo de parar, respirar e permitir que as pessoas que assumiram as rédeas do clube tenham o tempo necessário para implementar uma estratégia coerente e de longo prazo, em vez de ceder à pressão dos resultados imediatos. Hoje, mais do que nunca, talvez seja preciso reaprender a valorizar o tempo e a paciência, e dar tempo para os resultados apareçam naturalmente.

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