MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Professora Universitária

27/05/2024 07:00

As eleições europeias marcadas para 9 de junho afiguram-se como as mais importantes até hoje da história da União Europeia, devido em grande parte à mudança do contexto geopolítico que faz desta votação um momento crucial para o futuro da Europa. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, já no ano passado considerava a especial relevância destas eleições para ouvir as vozes dos europeus em questões fundamentais como o apoio à Ucrânia, a política das migrações, as ambições das políticas climáticas ou o caminho para a consolidação da União e a entrada de novos membros. Todas as forças políticas apresentarão as suas diferentes visões e procurarão responder aos desafios que aguardam a União Europeia dentro e fora das suas fronteiras. Estarão em causa respostas, e o impacto dessas respostas, em questões fundamentais, num cenário em constante evolução, caracterizado por crescentes tensões geopolíticas internacionais, cenários de guerra cada vez mais generalizados e ameaçadores, contínuas dificuldades económicas e sociais, dinâmicas comerciais complexas e desafios ambientais globais.

As questões internacionais são de tamanha relevância que a Comissão Europeia tem vindo a demonstrar preocupação, pela voz da sua Presidente, de que as eleições possam vir a ser influenciadas por atores estrangeiros hostis, que pagam secretamente campanhas de lobby para minar os processos democráticos, com autocracias a atacá-los por dentro. Fez 74 anos a 9 de maio a declaração visionária que Robert Schuman apresentou e que lançaria as bases daquilo que a União Europeia é hoje. Desde então, os povos da Europa, unidos na sua diversidade, procuraram criar um espaço comum de paz, liberdade, democracia e prosperidade. A grande intuição da Europa é clara: os principais desafios que enfrentamos não conhecem fronteiras nacionais e o nosso futuro dependerá da capacidade de agir unidos e construir a Europa num mundo mais justo. A questão colocada por Von der Leyen é, por isso, pertinente: podemos arriscar, por influências internas e externas de nacionalismos populistas e autocratas, minar o que foi conquistado?

Enquanto as televisões têm ocupado o seu tempo no ranking dos candidatos, com votos dos comentadores, que improvisamente saltam a fronteira e também se tornam eles próprios candidatos – afinal, são eles os senhores do tempo de antena –, pouco têm feito para esclarecer objetivamente o que está em causa num período tão delicado para a União Europeia e para o mundo. Numa feira de vaidades de quem comenta melhor ou influencia mais, vai-se perdendo tempo que deveria ser esclarecedor, neutro, preciso, de conhecimento das várias matérias que estão na mesa na UE.

A poucas semanas das eleições, nos debates, os jornalistas ainda não colocaram na mesa como tema as necessidades das regiões ultraperiféricas. E essas são fulcrais para o desenvolvimento harmónico da União Europeia, sendo prioritário investir numa política de maior coesão económica, social e territorial. A visão de uma Europa que responde com solidariedade e progresso não pode deixar de fora as regiões que, pela sua situação geográfica, têm mais dificuldades em várias áreas devido ao seu afastamento dos centros decisivos, política e economicamente, à insularidade, à pequena superfície e à topografia difícil. Ora, até aqui o debate tem deixado de fora a questão das regiões autónomas e é centrado, principalmente, no país como um todo. Mas, sem pensar nas partes, o país e a Europa nunca poderão ser coesos e justos.

Se o cenário é profundamente desafiante, mais desafiante o é nas regiões autónomas, com a inegável crise ambiental, as imparáveis transformações tecnológicas e digitais, a crise demográfica e as migrações massivas, as mudanças estruturais no mundo de modelos de trabalho e de produção. Que consequências terão numa região como a Madeira, que sofre já a perda e envelhecimento da população, apresenta índices de pobreza mais altos do que o resto do país, enfrenta também uma questão migratória e sofre as alterações climáticas de tal forma que tem de enfrentar já a questão da água e enfrentará muito cedo a questão das culturas.

São desafios, ameaças e, no entanto, potencialmente também oportunidades, que nos devem chegar às urnas esclarecidos, sem derivas populistas. Colocados perante uma Europa que - no passado - foi capaz de unir os cidadãos em torno dos mais elevados valores de igualdade, liberdade, democracia, direitos sociais, civis e humanos, devemos hoje procurar compreender o que se passa, sem respostas fáceis de destruição, mas com a consciência de que, mais do que nunca, votar no arquipélago é votar na Europa. E devemos exigir que se fale das Regiões como lugar e não como espaço assessório ou apêndice de um país. Porque o desafio também está em pensar o local no global, e o global no local. Está na base do pensamento europeu, mas deve ser lembrado constantemente, no sentido de reforçar a sua dimensão coletiva e comunitária.

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