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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

11/07/2021 07:00

Jesus Cristo, Bom Pastor, chamou à sua morada o Senhor Cónego António Damasceno de Sousa, oito meses antes de celebrar cem anos, após uma vida distribuída pela diocese do Funchal, Maputo (antiga Loureço Marques), um breve espaço de tempo no Rio de Janeiro e um longo período da sua vida na sua e nossa diocese do Funchal, aquela que foi a maior do mundo, num tempo em que os Papas e os sábios não sabiam qual era a dimensão do universo.

De alguma forma ele superou o castigo bíblico ao ultrapassar os oitenta anos e aproximar-se da idade dos patriarcas bíblicos.

A longa vida do Cónego Damasceno pode ser dividida em três CICLOS, o primeiro no Funchal, na sua paróquia de São Pedro dirigida por Mons. Joaquim Paiva, o Santo Cura d’Ars da diocese, conhecido por verdadeiro modelo dos párocos, apóstolo da causa do Seminário. O Damasceno ajudava-lhe à Santa Missa e acompanhava na oração e caridade na escola para crianças pobres, dirigida pelas Irmãs Vitorianas, junto à capela de São João da Ribeira.

O temperamento do António Damasceno era diverso do seu pároco, era um jovem ativo, brilhante, muito inteligente, alegre, músico e divertido, mas a marca espiritual profunda e séria do seu pároco, assim como do Senhor Padre Laurindo, confessor dos seminaristas e pai dos pobres, contagiou-o como a muitos outros futuros padres.

Quando entrei no seminário da Encarnação, tive como professor de latim e francês o Diácono Damasceno, também com o serviço de prefeito e educador que, tendo já terminado os estudos, não tinha idade para ser ordenado padre. Teve a intuição e a

inteligência de fazer uma escolha no meu curso de sete jovens que completaram a teologia, sendo ordenados seis. Nessa época de guerra, fome, carestia, pandemia da tuberculose, o Seminário tinha 120 alunos, com uma vida disciplinada, festiva, desportiva, mas principalmente com uma vida espiritual intensa, tradição que provinha do Bispo Agostinho Barreto e do Reitor do Seminário Padre Ernest Smitz.

Na Madeira, então, para aceder aos estudos universitários, só era possível no Liceu e no Seminário, os jovens pobres dos campos recolhiam-se a estudar na Casa Verde.

Ordenado em novembro de 1945, o Padre Damasceno foi colocado no extremo oeste da Madeira, no Jardim do Mar, num momento em que as viagens eram mais frequentes por mar do que por terra. Toda a zona da Calheta foi enriquecida com a presença do Padre Damasceno, na liturgia, nas festas, no sacramento da confissão, na pregação da Palavra de Deus.

O segundo foi CICLO foi Missionário, num tempo em que os Papas exortavam os jovens padres para consagrarem alguns anos de ministério fora das suas dioceses. Com a colocação do Arcebispo Teodósio de Gouveia em Lourenço Marques, com o mandato do Papa para estudar o plano da divisão de dioceses, o novo Cardeal falou com o Bispo do Funchal Dom António Ribeiro, e pediu-lhe para atender ao pedido do Papa. Nessa ocasião cerca de uma dezena de sacerdotes foram evangelizar Moçambique. Foi neste momento que o Cardeal Gouveia teve uma visão profética, convida as religiosas Vitorianas para entrarem em Moçambique. A ação destas filhas da Boa Mãe Madre Wilson, foi extraordinária. Distribuídas pelas dioceses, com o carisma da simplicidade, humildade, resiliência, pobreza e trabalho no hospital da Beira e ensino, realizaram um serviço generoso as estes povos que, não só foi louvado pelos bispos e honrado a Madeira cristã, mas "está escrito no livro da vida" (Apoc. 3,4).

A Arquidiocese da atual Maputo nomeou o Padre Damasceno, Reitor do Seminário São Pio X, em 1959, Cónego da Sé e Assistente dos Organismos da Ação Católica.

O terceiro CICLO foi todo realizado na Sé do Funchal. Foi ele que me recebeu como bispo diocesano na Catedral, a 30 de maio de 1982, com uma solenidade impressionante e imensa multidão. A sua ação pastoral tornou a Catedral o centro da vida cristã, segundo o Concílio Vaticano II. A piedade popular das Missas do Parto e do Espírito Santo não entraram na Sé, mas a Santa Liturgia atingiu níveis altíssimos nas missas dominicais, os coros gregorianos entrelaçaram-se com a música erudita, Bach vibrou na Sé, mas não substituiu a organização de confissões e sacramentos. A Catedral é a igreja do Bispo Diocesano, e distinguiu-se sempre por grandes comunidades crentes, a Semana Santa atingia grande dignidade assim como as confirmações e ordenações sacerdotais. A visita há trinta anos do Papa João Paulo II, mostrou a face de uma Igreja em sintonia com a Igreja Universal. Nem todos apreciavam as tomadas de atitude do Cón. Damasceno no campo da liturgia, mas ele tinha o sentido de Deus, "sancta sanctis". o que é santo para os santos, mas para isso os confessionários não acumulavam poeira.

A Catedral nunca teve arraiais, apresentou-se sempre como Casa de Oração e Louvor à Trindade Santíssima. Apraz-me terminar com o Livro do Apocalipse: "Eu vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que desce do céu, de junto de Deus, adornada como uma esposa que se enfeitou para o seu esposo" (Ap.21,2).

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