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Artigo de Opinião

Professor

14/02/2021 08:00

É na proximidade deste sufrágio que se cose em lume brando o trabalho, o carácter, as virtudes e os defeitos daqueles que dirigem as câmaras e juntas de freguesia. Pessoas que conhecemos e com quem muitas vezes lidamos. E isso, não sendo do mais refinado em termos de discussão política, não deixa de ser, pela proximidade ao eleitor, o assunto político-partidário que mais envolve grandes e pequenas comunidades. Aproximando-se a hora de escolher, todos têm opinião. E, porventura, algum têm interesse direto. A amizade, o parentesco ou o companheirismo raramente impedem divergências, quase sempre calorosamente defendidas com convicção e energia, roçando casualmente alguma agressividade verbal. Era assim no antigo normal. Foi assim nas últimas décadas. E que vibrante era a atmosfera política.

Mas até isso a pandemia suspendeu. Há um profundo silêncio no concelho. Um silêncio forçado pelo confinamento que veio descaracterizar o ambiente pré-eleitoral. Agora todos se olham de relance. Ninguém tem jeito ou disponibilidade para conversas de pé-de-orelha. As máscaras deixam-nos atordoados, desconfortáveis, em palavreados fugidios e pouco percetivos. Amordaçados nas opiniões e vencidos pela imposição mediática da covid.

Para além do vírus, do vizinho infetado, do processo de vacinação, da Pfizer, da Moderna ou da AstraZeneca, pouco mais permanece com estrondo, no espaço público. Continuando assim, por muito mais tempo, qualquer campanha eleitoral, qualquer debate sério ou apreciação popular do próximo embate autárquico, está ferido de substância e da intensidade que deveria merecer.

Ao contrário das eleições presidenciais, cuja campanha pode, sem qualquer prejuízo, decorrer apenas nos meios de comunicação social, as eleições autárquicas precisam da rua, do contacto direto, do envolvimento de mais de uma centena de intervenientes por concelho. Os candidatos a autarcas precisam da tocadela do povo. E, assim não acontecendo, há um desequilíbrio indevido em favor dos que já estão no exercício dos cargos. O que, como sabemos, vem acrescentar vantagem às ditas políticas de proximidade e de apoio social que as câmaras e juntas de freguesia já andam a fazer, desde que começou esta crise pandémica, muitas vezes extravasando sem qualquer regra as suas competências legais. As autarquias transformaram-se num complemento de solidariedade social, o que, no momento atual, deverá dar vantagem à continuidade dos seus titulares.

A balança pode estar a pender demasiado para favorecimento de reeleições, mesmo de executivos que têm dado provas de pouca competência. A crise atual pode funcionar como uma máscara de ocultação das verdadeiras fragilidades e impedir algumas alternâncias desejáveis.

Por isso, não será descabido ponderar um adiamento do ato eleitoral por mais algum tempo, como está a ser ponderado no todo nacional. Não só para que o exercício do direito ao voto se faça sem grandes constrangimentos sanitários, mas sobretudo para que o único tema dominante no espaço público e mediático deixe de ser a pandemia e passe a ser também a vida política e social em cada uma das autarquias.

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