MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

18/06/2024 08:04

Imaginemos que tenho apenas 10 euros no bolso e tenho as meias espalhadas pelo quarto, sem gaveta própria. Vejo uma mesinha-de-cabeceira numa loja de pechinchas, de uma gaveta apenas, a 20 euros. O banco empresta-me 15 euros para pagar em 3 meses, a 5 euros por mês, e eu fico com 5 euros no bolso para outros gastos, como o papel para forrar a gaveta. Tudo resolvido e acordado entre as partes interessadas.

Mas e se o legislador, pensando no meu bem-estar, resolve que a madeira cartonada usada para fundo da gaveta é fraco demais, que vai abolar sob o enorme peso das minhas singelas meias, e mais outros defeitos que decerto tem? Lá sai uma lei que impede a fábrica que abastece a loja de pechinchas de usar aquele tipo de material. Lá terá de ser de algo mais forte... e mais caro. Sendo assim, ou o preço final sobe, ou não há lucro em fabricar a mesinha de cabeceira.

A minha escolha está, agora, condicionada e, como tenho mesmo de comprar um móvel com uma gaveta, terei de pagar mais, o que significará uma dentada nos 5€ para gastos, ou aumentar a dívida, aumentando os juros, o montante de cada prestação ou o número de prestações — ou tudo.

Mas o legislador ainda acha que eu não estou suficientemente protegido: afinal, aquele espaço vazio por baixo da gaveta é um desperdício. É preciso forçar o fabricante a preencher aquele espaço, por exemplo, com mais gavetas. Mais gavetas significa mais material e mais mão-de-obra. Ou o preço sobe, ou não há lucro, ou não há mesinha-de-cabeceira.

Agora já não tenho margem de manobra no bolso, pelo que tenho mesmo de recorrer a um aumento do empréstimo. Lá me pesam prestações mais elevadas, para não aumentar o tempo em que estou em dívida.

O legislador, condoído pelo meu drama financeiro, força o banco a baixar-me as prestações. O banco aumenta o número de prestações. Vou dever durante mais tempo.

Depois o legislador torce o nariz ao design simples e pouco apelativo. Afinal todos temos o direito às coisas belas deste mundo, segundo o gosto do legislador, ou do seu especialista favorito. Mais uma norma. Mais uma subida no preço.

Já começo a arrepender-me de querer meter as meias numa gaveta; talvez um saco no chão sirva perfeitamente. Num último esforço, peço mais dinheiro ao banco que, porque o legislador também limitou a extensão dos empréstimos, resolve aumentar o preço do empréstimo. Lá vou eu pagar mais juros.

Mas o legislador vê mais um favor a fazer-me: é melhor que a mesinha tenha um tampo de mármore e seja feita apenas de madeiras nobres sólidas. Ou o preço sobe, ou não há lucro, ou não há mesinha-de-cabeceira.

Para que o banco não me lixe, diz o legislador, sai uma lei que proíbe o aumento do preço do empréstimo. O banco já só me empresta mais se eu tiver mais garantias e mostrar que a possibilidade de eu entrar em falta é, no mínimo, remota.

Desisto da compra previamente acordada entre as partes interessadas. A parte não interessada, o legislador, culpa os fabricantes de mobiliário, que deviam era fazer a mobília ao preço baixo comigo acordado, mas com as regras, entretanto por eles impostas — para meu bem, claro, que acabei por continuar a guardar as meias no saco do supermercado, pousado num canto do quarto. Isto até o legislador me proibir de ter as meias num canto, que têm é de estar numa gaveta...

Já viram se isto acontecia, por exemplo, com o mercado da habitação? Ainda bem que não é assim... Claro que não. Cá nada.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Farmacêutico Especialista
6/03/2025 08:00

Há 30 anos atrás, em 1995 ocorre o “annus mirabilis” da Britpop.

Qualquer melómano que se preze, mesmo que não aprecie (por uma questão de gosto pessoal),...

Ver todos os artigos

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Como está a acompanhar a situação clínica do Papa Francisco?

Enviar Resultados

Mais Lidas

Últimas