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Artigo de Opinião

19/10/2023 08:00

Marina Machete, 28 anos, arrecadou o título de Miss Portugal. Tudo bem, senão fosse a particularidade de a Marina ser uma mulher transgénero.

Este texto também não é para a defender, nem, tão pouco, aos concursos que tipificam as mulheres em corpos, categorias e exemplos de perfeição que, todos os dias, fazemos por combater. Ou para os normalizar entre a diversidade.

O caminho é longo nesta matéria.

Quando falamos de igualdade de género, devíamos garantir que seria para reiterar que o ser humano é livre para fazer as suas opções, decidir os seus papéis, lutar pelas suas aspirações. Sem estereótipos associados, sem intolerâncias, sem desconhecimento.

É, precisamente, o desconhecimento que tolda o respeito, a capacidade de diálogo e a nossa tolerância. E, no caso de Marina Machete, é a ignorância sobre o processo dela e de tantas outras que nos empurram para o discurso arcaico, tradicional e preconceituoso. Mesmo que não queiramos.

Ainda que eu considere curiosa a sua escolha de participar num concurso que tipifica as mulheres e mostra um mundo que muitas de nós querem combater, creio que só podemos alcançar o "nirvana" da igualdade quando, enquanto sociedade, formos capazes de viver, sem celeumas, com a diferença.

A Marina é só um exemplo, de entre tantos, a quem a biologia tradicional ou o curso de vida, tido como natural, alegadamente lhe trocou as voltas.

A comunidade LGBTQIA+, em particular, é mesmo o expoente da diversidade de orientações sexuais e de identidades de género com quem temos tanto para aprender. Porque nos mostra que o caminho nem sempre é linear, que existem obstáculos inimagináveis, mas, por outro lado, vontades inequívocas pelas quais vale a pena dar um passo atrás do outro.

É certo que nem sempre concordamos. Nem sempre me revejo com a abordagem que fazem para chamar a atenção das suas necessidades. Não sei se a Marina está certa por representar a mulher transgénero num concurso machista. Mas respiro. Faço a pausa que o assunto merece. E esforço-me para passar das palavras aos atos. Para ser parte da construção dessa cultura de igualdade de oportunidades para todas as pessoas.

O caminho é longo.

Mas só quando olhamos os outros nos seus olhos, quando imaginamos como é calçar os seus sapatos, podemos perceber as vontades de cada um, os sonhos das Marinas e os modelos tradicionais que favorecem a desigualdade. E, aí, nesse momento, somos capazes de ser e fazer parte.

Na terça, quando se ouviu Miguel Albuquerque, no seu discurso de tomada de posse, falar sobre a igualdade de género, soubemos que, na Madeira, ainda que o caminho não esteja concluído (porque é dinâmico e pouco linear), está a ser feito, será reforçado e isso dá-nos (mais) esperança no futuro. Quando o nosso líder nos mostra que a igualdade é sua prioridade, sabemos bem que caminhamos no rumo certo.

Porque no dia em que o respeito for a tónica maior, será o tal Dia da Paz no mundo.

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