Mas é assim mesmo a democracia. Não há melhor sistema para mandatar governantes e legisladores. O Dr. Cunhal é que dizia em 1975 que "não aceitava o jogo das eleições", pois não era [necessariamente] através destas que se fazia democracia. Mas isso é porque sabia que PS e PSD juntos valiam 70% do eleitorado. Para quem se apercebe em minoria, as eleições são muitas vezes uma maçada. Confesso que também não me apetecia muito falar sobre eleições dentro do meu partido pois, ainda que diretas nacionais, são sempre aquelas que propiciam discussões mais sanguíneas, declarações mais inflamadas, e ataques mais duros. Acho que não é isso, de todo, o que o PSD precisa, muito menos o país. Não entrarei por aí, até porque, infelizmente, há muito quem se preste a esse papel. Há algo porém, inescapável. Uma crise orçamental que desembocou em crise política apanhou os principais partidos de centro-direita e direita moderada, PSD e CDS, em processo eleitoral ordinário. Nada há de mal nisso. E se o CDS rejeitou o processo de escrutínio interno, o PSD em boa hora entendeu que era urgente dar um sinal de transparência interna ao país. De resto, qualquer que seja o vencedor da contenda social-democrata, aparecerá aos olhos do eleitorado reforçado na sua dimensão política, após uma necessária clarificação interna. Já escrevi sobre o assunto, e não vale a pena estarmos a digladiarmo-nos sobre de quem são os méritos das derrotas e vitórias eleitorais dos últimos anos. O adversário está lá fora e o discurso deve ser feito nesse sentido. Como afirmou, e bem, Paulo Rangel, estas são umas espécie de primárias do PSD para identificar o candidato a primeiro-ministro, devendo os dois companheiros-candidatos provar aos militantes qual o que tem melhores propostas para o país, e quem apresenta mais armas contra Costa. E os militantes devem optar livremente, sem coação, sem o estigma do medo, sem que sejam alimentados por teorias sinistras e estapafúrdias. Votem em quem votarem, o grande vitorioso de dia 27 de Novembro é o PPD/PSD. Como diria em 1974 Francisco Sá Carneiro: "A democracia é uma ideia e um sistema tão natural que se defende e impõe a si própria".