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Artigo de Opinião

Presidente do Instituto das Florestas e Conservação da Natureza

19/11/2024 14:20

Nos últimos tempos, a gestão florestal da Madeira tem sido alvo de comentários, muitos dos quais provenientes de quem, possivelmente bem-intencionado, carece de conhecimento mais profundo sobre a realidade da nossa Região. Este fenómeno, alimentado por perceções distorcidas e, por vezes, críticas infundadas, subestima a história de uma população que teve de aprender a viver, trabalhar e cuidar da sua floresta.

A floresta da Madeira não é apenas uma parte da nossa paisagem. É um dos pilares da nossa identidade e um testemunho vivo da relação complexa entre o homem e a natureza ao longo dos séculos numa ilha. É inegável que, ao longo da história, a floresta foi vítima de ações humanas que levaram à destruição de boa parte da sua cobertura original. Mas, esses episódios, legítimos à escala da povoação e da sobrevivência de um povo, não podem ser descontextualizados do passado histórico. Foram fruto das limitações de uma sociedade isolada, onde a floresta era a única resposta para as necessidades básicas de sobrevivência. Mesmo neste contexto o povo madeirense soube preservar grande parte dessa floresta. Ignorar este contexto é desvalorizar a resiliência e a capacidade de adaptação que tão bem definem o povo madeirense.

Hoje, temos a herança desse passado, e temos o privilégio de observar uma transformação, uma floresta que consegue se regenerar, fruto da diminuição da pressão direta da população sobre a mesma, mas também do trabalho e esforços contínuos liderados, na atualidade, pelo Instituto das Florestas e Conservação da Natureza (IFCN) e no passado pelas entidades públicas que o precederam. Hoje, a floresta da Madeira é cuidada com rigor técnico, numa visão de longo prazo. Projetos de reflorestação (com espécies indígenas produzidas em viveiro florestal), de controlo de espécies invasoras, de promoção da biodiversidade são apenas alguns exemplos de como o Governo Regional através do IFCN garante a sustentabilidade dos nossos recursos naturais, em espacial a preservação da nossa Floresta Laurissilva. Com uma ação permanente no terreno, o Corpo de Polícia Florestal e o Corpo de Vigilantes da Natureza desempenham um papel fundamental de vigilância.

Conservar a Laurissilva é um desafio que exige dedicação, estratégia e resiliência.

Mas, a Floresta Laurissilva enfrenta novos desafios com as consequências das alterações climáticas no topo das preocupações. Questões como o aumento da severidade dos incêndios, o crescente número de invasoras, o aumento da temperatura ou a diminuição da disponibilidade de água para a vegetação são apenas algumas das questões diretas das alterações climáticas. Perante estes cenários, o IFCN tem assumido a liderança, e juntamente com outras entidades regionais, tem mobilizado recursos, implementado estratégias e promovido a resiliência da Floresta Laurissilva para proteger vidas humanas, bens materiais e o nosso património natural.

É neste espírito que, no próximo dia 29 de novembro, o IFCN organiza a conferência “Laurissilva da Madeira, 25 anos de reconhecimento, milhões de anos de floresta — O papel dos sítios UNESCO para a sustentabilidade”. Este evento, que contará com a presença de alguns dos maiores especialistas mundiais em Laurissilva e em gestão de sítios UNESCO, celebrará um marco importante: os 25 anos desde a classificação desta floresta como Património Mundial, o único Património Natural de Portugal que deve encher de orgulho todos os madeirenses. Mais do que uma comemoração, será uma oportunidade para refletir sobre como estas distinções podem guiar a gestão sustentável e assegurar que o valor universal da Laurissilva se reflita na melhoria da qualidade de vida das populações e perdure para as gerações futuras.

Apesar das ameaças que a floresta enfrenta hoje, diferentes das do passado, cada passo dado com uma gestão florestal correta aproxima-nos de um futuro mais sustentável, onde a harmonia entre a conservação da natureza e o bem-estar das comunidades será um dos nossos maiores legados.

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