O Governo Regional dos Açores pretende fazer uma caracterização socioeconómica e clínica dos consumidores das novas substâncias psicoativas (NSP), para definir medidas específicas de combate ao problema, revelou à Lusa a secretária regional da Saúde.
"Será uma ferramenta bastante útil para medidas futuras que possam vir a ser implementadas", adiantou Mónica Seidi, que tutela também o combate às dependências.
Segundo a governante do executivo PSD/CDS-PP/PPM, a associação Novo Dia, que atua maioritariamente no concelho de Ponta Delgada, fez um estudo que pode ser útil nessa caracterização, mas o objetivo da tutela é "perceber se, além das condições socioeconómicas, há alguma correlação com patologia psiquiátrica associada, quer seja como causa ou consequência destes consumos".
O número de sem-abrigo em Ponta Delgada, cidade mais populosa do arquipélago, registou um aumento, mas não há dados que comprovem a associação a um maior consumo de drogas e, em específico, de NSP.
"Com o estudo deste tipo de população, eventualmente poderemos ter de avançar com a constituição de equipas de rua, que façam um trabalho próximo, por exemplo, dos sem-abrigo e lhes forneçam algum tipo de ferramentas e apoio, porque estas substâncias são altamente lesivas para a saúde mental e física", avançou Mónica Seidi.
Em maio, reuniu-se, pela primeira vez nos Açores, uma 'task-force' para a luta contra as NSP, integrando membros do Governo Regional, representantes das forças de segurança e organizações ligadas à prevenção e tratamento de dependências, e que deverá reunir-se uma vez por mês.
Os estudos de âmbito nacional mais recentes colocam os Açores entre as regiões com maior incidência de consumos e dependências, mas não há ainda dados concretos sobre as novas substâncias psicoativas, devido às dificuldades de enquadramento legal e até de identificação nos testes de laboratório.
A região registou um aumento de utentes enviados para comunidades terapêuticas e um aumento de jovens em tratamento entre 2019 e 2021, mas, na maioria dos casos, há consumos de vários tipos de drogas.
O número de utentes enviados para comunidades terapêuticas aumentou de 26 (incluindo um menor) em 2019 para 35 (cinco menores) em 2020.
Em 2021, o número quase duplicou, com 63 utentes, o mais velho de 56 anos (incluindo quatro menores). Em 2022, foram contabilizados 25 utentes, o mais velho com 46 anos (dois menores, o mais novo com 14 anos).
Segundo Mónica Seidi, "atualmente não existe lista de espera para os jovens ingressarem neste tipo de resposta", mas na Casa de Saúde de São Miguel, que trata adultos por toxicodependência e alcoolismo, há "20 utentes em lista de espera e 50 que aguardam primeira consulta de triagem".
A instituição, a única que oferece tratamentos de longa duração de toxicodependência na região, tem 35 camas para tratamento de dependências de álcool e drogas, mas Mónica Seidi admitiu estudar um reforço.
"Estamos a analisar a situação e se for necessário, dentro das possibilidades das instituições parceiras do Governo Regional, iremos diligenciar nesse sentido", afirmou.
Ainda que sem uma caracterização destes consumidores, a titular da pasta da Saúde admitiu preocupação com um possível aumento da procura por drogas sintéticas entre as faixas etárias mais novas, que muitas vezes desconhecem os efeitos do que estão a consumir.
"Requer uma reflexão e atuação do ponto de vista de campanhas de sensibilização dirigidas a estas faixas etárias e que incidam nos efeitos que estas novas substâncias poderão ter a nível da saúde mental dos jovens", frisou.
Sem números concretos, há uma perceção de que o consumo de NSP tem vindo a aumentar na região.
Por vezes, aquelas drogas isoladas são lícitas e não representam perigo, mas misturadas com outras substâncias são "altamente nocivas para o consumidor".
Lusa