A Rússia negou hoje ter causado uma crise alimentar no mundo e sugeriu que a Ucrânia use os comboios que chegam com armas ao país para continuar a exportar cereais através da Polónia.
"A Rússia tem sido sempre um exportador de cereais fiável. A Ucrânia era também um exportador de cereais bastante fiável. E, agora, o lado russo não está de modo algum a impedir a Ucrânia de exportar cereais para a Polónia por via ferroviária", afirmou o porta-voz do Kremlin (Presidência).
Dmitri Peskov disse que os cereais ucranianos podem ser exportados nos mesmos "comboios com armas" que chegam à Ucrânia a partir da Polónia.
"Nada os impede de enviar cereais nos comboios de regresso", afirmou, citado pela agência espanhola EFE.
Quanto à rota de exportação marítima, Peskov disse que continua bloqueada, atribuindo a responsabilidade aos militares ucranianos, que acusou de terem colocado minas nos portos.
"As ações da Ucrânia para minar as águas dos mares Azov e Negro tornaram a navegação mercante praticamente impossível, porque é perigosa", disse.
Peskov acrescentou que "são necessárias medidas especiais para que a navegação seja retomada".
A União Europeia (UE) discutiu, na sexta-feira, medidas para aliviar a crise alimentar causada pela guerra russa contra a Ucrânia, que levou à escassez de produtos como milho, cereais e óleo de girassol e a um aumento dos preços em todo o mundo.
No final de um Conselho de Desenvolvimento, o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, disse que cerca de metade do trigo de inverno, 40% do centeio e mais de 60% do milho que deveria ser colhido na Ucrânia este ano está em zonas de perigo em consequência da guerra.
Por isso, 30% das culturas de trigo, milho e girassol de inverno na Ucrânia permanecerão por colher este ano ou não serão semeadas durante a primavera, disse Borrell.
Segundo o também vice-presidente da Comissão Europeia, 20 milhões de toneladas de cereais estão bloqueados nos portos ucranianos controlados pela Rússia.
Borrell também defendeu, na semana passada, a necessidade de reforçar a segurança europeia face à política agressiva da Rússia, que mereceu críticas do porta-voz do Kremlin.
"A militarização [da Europa] e o futuro fornecimento de armas à Ucrânia não contribuem para reforçar a segurança e estabilidade do continente europeu", disse hoje Peskov no ‘briefing’ diário à imprensa.
"Sabemos que o senhor Borrell não é um apologista de métodos diplomáticos de resolução de problemas, apesar da posição que ocupa", acrescentou.
A Comissão Europeia propôs, na quinta-feira, uma série de medidas para reforçar a base industrial e tecnológica da defesa europeia, recomendando aos Estados-membros da UE que avancem para aquisições conjuntas.
A UE e países como os Estados Unidos ou o Reino Unido têm fornecido armas à Ucrânia para se defender na guerra iniciada pela Rússia há três meses.
Lusa