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Sentida homenagem em memória das vítimas da violência criminal na África do Sul (com fotos)

O Salão Paroquial da Igreja de Nossa Senhora de Fátima em Brentwood Park, Benoni, foi palco de um serviço religioso, no passado domingo, em memória do meio milhar de portugueses que perderam a vida em consequência da criminalidade na África do Sul.

Foi notório entre as centenas de familiares de vítimas presentes no ato que todos ainda tentam perceber os desígnios das ações que desfizeram as suas famílias, agora enlutadas para sempre.

Também presentes neste memorial estiveram pessoas que sobreviveram a ações violentas e que fizeram questão de se associarem à homenagem aos seus compatriotas ou conterrâneos que partiram.

O ato foi marcado pela presença de muitas pessoas traumatizadas, tristes e diluídas em lágrimas, lamentos, dor e resignação, evidenciando um indizível esforço férreo de superação e a retoma de vida que não deixa de ser uma honra à memória aos seus entes assassinados por uma violência tresloucada.

O acender das velas com os nomes gravados a dourado das vítimas constituiu um momento emocionante.

Terminada a missa, Manuel Ferreirinha, presidente do Fórum Português (FP), começou por saudar o padre Tony Nunes , o Conselheiro da Embaixada António Sabido da Costa, a Cônsul-geral de Portugal, Graça da Fonseca, e dirigiu-se aos presentes e diferentes organizações ali representadas oferecendo as suas condolências.

Ferreirinha agradeceu a Encarnação de Freitas pela sua dedicação de 23 anos à causa do FP; a Zélia de Nóbrega, Guida Canada e Mel Araújo do grupo de senhoras, a Bianca Vaz e Natália Teixeira do grupo média social, Dominic Pais presidente do Sociedade de Jovens Portuguese Adults (sigla em inglês YAPS) e ao Team Fórum pelo trabalho desempenhado em prol do FP e da comunidade portuguesa.

Seguidamente, usou da palavra Graça da Fonseca, que cumprimentou todos os presentes. Teceu vários elogios a todos os que se empenharam na realização do memorial, mas também pelos serviços rendidos a várias pessoas e organizações, nomeadamente, o Fórum Português e o seu presidente Manuel Ferreirinha, manifestando que se encontrava ali para homenagear a memória dos portugueses vítimas da violência e, ato contínuo, expressou de forma sentida as suas condolências aos familiares e amigos dos falecidos.

Pronunciando-se sobre os efeitos devastadores da violência que vem atingindo as famílias portuguesas, a Cônsul-geral de Portugal em Joanesburgo expressou a sua solidariedade numa alocução que foi ouvida em profundo silêncio pelas oito centenas de portugueses que ali se encontravam, que só se manifestaram com duas salva de palmas.

A responsável consular mencionou as várias formas de violência, não deixando de fazer referência aos sequestros de que foram vítimas um número expressivo de portugueses. Elogiou também o trabalho voluntário realizado por várias pessoas, sem as nomear, em prol da comunidade e do seu bem estar e de combate ao crime.

Graça da Fonseca teve palavras de incentivo e admiração pela forma de estar da comunidade e pela pujança demonstrada apesar de bastante afetada pela violência criminal. Uma abordagem baseada no conhecimento de causa e de experiência pessoal, que depois de explicada aos presentes, recebeu os melhores encómios.

De salientar que Graça da Fonseca deslocou-se a áreas problemáticas onde a violência, no seu auge, atingiu vários compatriotas. Um dos locais visitados foi o problemático e ameaçador bairro de Tembisa, onde trabalham muitos portugueses naturais da Ilha da Madeira, com quem contactou demoradamente, conforme o JM noticiou oportunamente. Uma visita impulsionada pelo Conselho da Diáspora madeirense em Joanesburgo, em parceria com o Fórum Português, e que contou com o acompanhamento de Manuel Ferreirinha.

Seguidamente usou da palavra o Conselheiro da Embaixada de Portugal, António Sabido da Costa, em representação do Embaixador de Portugal na África do Sul, que proferiu um discurso em que começou por agradecer o convite para participar no Memorial.

António Sabido da Costa saudou o sacerdote madeirense, Padre Tony Nunes, que presidiu à celebração litúrgica, manifestando depois que era “com toda a satisfação” que marcava presença no ato, “enquanto representante das autoridades portuguesas e na qualidade de nacional português, num sinal de solidariedade com as famílias e amigos de todas as vítimas que hoje recordamos”.

“As autoridades portuguesas estão plenamente conscientes da situação de insegurança que se vive no país, e é com sentimento de frustração que têm assistido, sem margens para interferências, as sucessivas ondas de violência que têm vitimado a nossa comunidade, tendo sido empenhado esforços, ao mais alto nível, junto dos sucessivos governos sul-africanos, a pedir justificações e a exigir medidas adequadas que ponham cobro a este flagelo”, explicou o Conselheiro.

“E assim com um sentimento de tristeza e revolta, que aqui estamos ao lembrarmos todos aqueles que, por um ato de violência sem sentido, foram tirados às suas famílias e ao seu círculo de amigos, deixando um vazio impossível de preencher. Mas não poderia deixar de referir que nos assiste igualmente um sentimento de esperança e de conforto, ou não estivéssemos na Casa de Deus, ao acreditarmos que todos aqueles que partiram de forma tão abrupta, gozam hoje da merecida paz na Casa do Pai e dali velam e intercedem por esta comunidade e de modo muito especial por todos os familiares e amigos aqui presentes”, acrescentou.

“Dele importa agora sobretudo relembrar a sua vida dedicada ao trabalho, à família, à comunidade, e todo o bem que fizeram e auxílio que prestaram aos seus concidadãos ao longo da sua passagem terrena, constituindo um legado e um exemplo para gerações vindouras. Que descansem em paz”, finalizou António Sabido da Costa.

Comparada com outros países, a África do Sul destaca-se pelas taxas notavelmente elevadas de violência criminal, uma das mais altas em homicídios no mundo, assim como do crime organizado e de intensa corrupção com desígnios profundamente fraturantes.

O serviço de estatísticas confirma que no período entre 28 de fevereiro de 2023 e 1 de março de 2024, 27.494 pessoas foram assassinadas, o equivalente a uma taxa de 45 homicídios por cada 100.000 habitantes.

No fim do ano passado, no mês de dezembro, abandonaram, definitivamente, a África do Sul 620.000 pessoas, que deram como razão distinta, os níveis inadmissíveis de violência.

Dupla tragédia: Dois assassinatos, duas irmãs, duas viúvas

  • Sentida homenagem em memória das vítimas da violência criminal na África do Sul (com fotos)

Estiveram, ontem, lado a lado com outras pessoas no Memorial às vítimas da violência para uma homenagem a todos aqueles que perderam as suas vidas em consequência da violência criminal.

Seus maridos encontram-se entre o meio milhar das vítimas portuguesas que pereceram às mãos de facínoras sem escrúpulos.

Liliana Simões a quem assassinaram o marido, Manuel Rebelo Simões às 05:50 do dia 23 de dezembro de 2001, no seu estabelecimento em Hillbrow.

Um empregado do supermercado Dynamo da seção de padaria, nacional moçambicano, quando o madeirense se dirigiu em direção do cofre para o abrir, o padeiro sacou de uma pistola abriu fogo com a mesma, fulminou-o, roubou o dinheiro existente e escapuliu-se imediatamente.

Avisada a polícia e familiares puseram-se no encalço do assassino que foi referenciado e o seu carro também próximo da fronteira da África do Sul com Moçambique.

Alegadamente não conseguiram apreender o malfeitor pessoa positivamente identificada que procurou refugiu no seu país de origem, mas até hoje, volvidos 23 anos continua à solta no país vizinho.

Liliana diz ser ridículo não apreenderem o assassino de seu marido uma vez que se sabe quem é e para onde foi e cópias dos seus documentos originais de identificação foram facultados às autoridades.

Sei que não trazem de volta o meu marido mesmo que apanhem o criminoso que enlutou a minha família, disse-nos.

Tanto as autoridades e uma ONG portuguesas e polícia sul africana, lamentavelmente, como é normal, remeteram-se ao silêncio e ao fim de mais de duas décadas ainda não houve uma resposta, o que é no mínimo revoltante.

“Consegui sobreviver. Não há esperança, não há nada a fazer,” disse, com os olhos marejados de lágrimas.

Linda Ferreira, seu marido, o madeirense José Manuel Ferreira, quatro anos após o assassinato do marido de sua irmã também foi assassinado quando se dirigia para a sua residência após um dia de trabalho.

O móbil foi o roubo do dinheiro que transportava consigo, produto de um dia de trabalho.

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