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Ser

5/06/2021 09:20

Há, obviamente, muitas coisas que não mudam, passem os anos que passem. A nossa cultura continua a ser um entrave real. O preconceito continua a existir.

Cresci numa época em que 'as meninas' deviam usar vestidos e brincar ao 'borda-borda' enquanto 'os meninos' jogavam à bola. Nessa altura, menina que se atrevesse a dizer que gostava de carros e de jogar à bola era logo apelidada de 'maria-macho' e tratada de forma distinta. Menina que se defendesse das abordagens menos próprias dos meninos levava um recado para casa por comportamentos 'inadequados'. Menina, jovem, mulher que fosse vítima de violência doméstica ou sexual, era 'culpada' e não vítima.

Apesar de ter plena noção de que meninos e meninas, jovens, homens e mulheres têm, hoje, uma conceção bastante diferente daqueles que são os seus direitos, o preconceito continua a existir. As vítimas de violência doméstica e/ou sexual continuam a ser 'culpadas' antes de serem vítimas.

O estereótipo não decide apenas culpados ou vítimas, decide o mérito entre pessoas de diferentes géneros - já não é uma questão de sexo, é uma questão de género. Todos aqueles que não optem por ser aquilo que o sexo determinou à nascença, são tratados de forma preconceituosa. É mais fácil dizer que é mentira, que as políticas de igualdade e de inclusão estão a mudar o mundo, mas não é assim. Esta batalha está longe de ser vencida.

Esta verdade é simultaneamente chocante e previsível, concedo. Chocante porque nunca ninguém quer admitir alimentar estereótipos com base no género e previsível porque é manifesto que o fazemos.

Senão vejamos, o nosso estereótipo dos homens continua a dizer que 'eles' são chefes de família, 'homens de negócios', decididos e motivados. O nosso estereótipo das mulheres diz que 'elas' são educadoras, sensíveis e altruístas.

Embora se comece a sentir que 'algo mudou' na forma como encaramos as mulheres líderes, aquelas que se concentram na sua carreira, ao adotarem uma postura de poder, violam as expectativas estereotipadas de muitos em relação às mulheres. Todavia, um homem que se comporte exatamente da mesma maneira, corresponde às 'nossas' expectativas estereotipadas dos homens. Resultado? Gostam dele, não gostam dela. "Gosto muito daquele Senhor, é muito trabalhador, muito simpático" versus "Aquela Senhora é muito arrogante, acha que é melhor que os outros, que manda em toda a gente. Uma solteirona frustrada, só pode!". Esta dinâmica repete-se continuamente.

Julgo que este preconceito está no âmago da razão pela qual as mulheres se retraem, no dia-a-dia - para nos protegermos de não gostarem de nós, questionamos as nossas capacidades e minimizamos o nosso sucesso, sobretudo na presença de terceiros. Deitamo-nos abaixo antes que os outros o façam.

Quando uma mulher insiste para que se faça alguma coisa, quando é líder, quando se concentra nos resultados e não em agradar aos outros, está a agir como um homem. E quando age como um homem, as pessoas não gostam dela. Por isso, 'elas' moderam os seus objetivos profissionais em resposta a esta reação negativa, uma e outra vez.

A maior parte das pessoas nunca ouviu falar do estudo Heidi/Howard, mas faço aqui o apelo: leiam o estudo, para terem conhecimento daquelas que são as desvantagens estereotipadas do sucesso. Leiam, porque, ao contrário do que muitos (e muitas de vós) possam pensar, nós somos aquilo que nos permitimos ser.

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