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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

29/10/2023 08:00

O filme "Sacerdote" de D. Boyer, cristão evangélico, trata de sacerdotes, num tempo em que o sacerdócio católico trava uma crise muito amarga para toda a Igreja, devido a abusos com menores. Apesar disso, o regista Boyer trata-os como "ouro puro", devido à sua capacidade de sacrifício, dedicação absoluta, abnegação admirável. O filme apareceu na França, terreno que nem sempre é simpático para a Igreja, mas tem o condão de saber distinguir entre o bom grão e a sisânia.

O filme é capaz de comover, tratando do sacerdócio católico, tanto mais que na história da França encontramos santos que são modelos de santidade para todas as épocas, como o Cura de Ars, São Vicente de Paulo, Jacques de Foucauld e tantos outros. Mas os tempos atuais são diferentes.

O filme, é um desafio, anotam os periódicos franceses, embora se refira apenas ao sacerdócio católico, é um "sim" que revela os lugares-comuns, daqueles "homens entre o Céu e a Terra". Boyer escolheu cinco padres que aceitaram falar da "incandescência" que se apoderou dos seus corações no momento da vocação. Os escolhidos não são artistas de profissão ou autores conhecidos, provêm de diversas partes da França, seus nomes são: António, Gaspard, Paulo, Mateus, e Francisco, que não pretendem ser representativos do clero francês. São parábolas humanos, espirituais. O que leva um ser humano a uma escolha de vida tão absoluta e, hoje, contra corrente, ao menos segundo a mentalidade mais difundida na hodierna sociedade secularizada? O que é que os leva a colocar-se interiormente ao serviço de Jesus Cristo? O filme fala do celibato dos cinco sacerdotes que aceitaram exprimir-se sem intenções escandalísticas e sensacionalistas, a telecâmara aproxima-se na intimidade da escolha sacerdotal, colocando em primeiro plano questões que ressoam muitas vezes para tantos não crentes.

O filme custou quatro anos de trabalho, tratando os padres a tu por tu, pouco com a vocação sacerdotal e convencional. Desde as primeiras imagens, os cinco padres aceitam falar da "incandescência" que tomou posse dos seus corações no momento de aceitar o dom da própria vocação. Aparecem também as dificuldades, as dúvidas, visto serem seres humanos de carne e osso, que enfrentam estarem ligados a cada missão particular.

Paulo ouviu o testemunho de uma senhora já muito velhinha, que lhe disse, na infância foi abusada por um padre, esta parte é uma das passagens mais chocantes da película.

Com licença do próprio bispo, António é um padre que deve andar com as rulotes dos anos 70, entre as aldeias, geralmente descristianizadas do Midi transalpino. Padre Gaspard procura transmitir a própria paixão pelo alpinismo a jovens para ajudá-los a evitar dependências insidiosas com o consumo de pornografia.

Padre Mateus tornou-se missionário nos quarteirões da miséria em Manila. Padre Paulo, através do desporto procura mostrar que um padre aspira ficar no centro da sociedade. Padre Francisco que acompanhou muitos casais ao altar, reflete naquilo que continua a ser o sal próprio da vocação de padre diariamente renovado.

O filme é um tecido de vozes, dúvidas, encontros, poesia, luzes de íntima espiritualidade. Depois de ter aberto uma igreja fechada às chaves durante boa parte do ano, o Padre António, entra com uma guitarra a tiracolo a louvar a Deus de ser bom franciscano. O Padre

Gaspard, com os seus jovens constrói uma cruz de gelo numa montanha, conquistada com muita dificuldade. De noite, na jungla de Manila, o Padre Mateus com os colaboradores da sua fundação, procura retirar um menino das malhas da prostituição e de outras violências.

Diz o autor do filme que trabalhou completamente livre e só procurou compreender. Ajudou-me a crescer enormemente, dilatou-me coração, espera que o mesmo aconteça com os espetadores. Ser sacerdote é missão infinita...

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