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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

23/07/2023 08:00

O genial escritor russo, Liev Tolstoi, sentiu-se desapontado com a versão do seu livro, "Guerra e Paz", bem-recebido pelo público em 1869, mas que o descreveu como "repugnante". Em 1886, escreve um outro, que não é ficção, chamado "O reino de Deus está em vós". A alma da "Santa Rússia" é ainda cristã.

O Secretário de Estado do Vaticano, o Cardeal Pietro Parolin, conversando com quatro jornalistas italianos, sobre a guerra na Ucrânia e Rússia, disse que "alargar o conflito seria uma catástrofe gigantesca o que nos faz estremecer." Era semelhante ao que L. Tolstoi dizia do tema do seu livro Guerra e Paz: "repugnante". A igreja, seguindo as palavras de Jesus, só pode anunciar a Paz, como os anjos aos pastores, em Belém: "Glória a Deus nas alturas e Paz na terra aos homens de Boa Vontade".

O Papa Francisco tem sido um destemido mensageiro desta harmonia e pacificação com todas as comunidades religiosas do mundo e dos homens entre si. Amou tanto esta mensagem que até escolheu para seu nome, não o do seu fundador Inácio de Loiola, mas o de Francisco de Assis, o humilde franciscano, símbolo da bondade, mansidão, pacífico e contra qualquer forma de violência.

O Cardeal Parolin pediu "para evitar qualquer escalada militar, deter as bombas e abrir negociações, para as quais nunca é tarde demais". Assegurou que a Santa Sé está "pronta para facilitar as negociações entre a Rússia e a Ucrânia". À pregunta da possibilidade de o conflito se alargar, o Cardeal Parolin respondeu: "Nem me atrevo a pensar nisso, seria uma catástrofe de proporções gigantescas, ainda que, infelizmente, não seja uma eventualidade a ser totalmente descartada. Vi que as situações que precederam a Segunda Guerra Mundial foram evocadas em algumas das declarações dos últimos dias. São referências que fazem estremecer". O eventual retorno a uma nova guerra fria com dois blocos, é um cenário perturbador. Vai contra aquela cultura de fraternidade que o Papa Francisco propõe como único caminho para construir um mundo justo, solidário e pacífico. A única forma racional e construtiva de resolver as diferenças é através do diálogo, como o Papa Francisco não se cansa de repetir. Na sexta feira passada, como se sabe, o Papa Francisco foi bater na porta da sede diplomática da Federação Russa em Roma: aproveito a ocasião, disse Parolin, "para renovar o convite urgente que o Santo Padre fez durante a sua visita para cessar os combates e voltar às negociações. Em primeiro lugar, o ataque militar deve ser interrompido imediatamente, pois as consequências trágicas já estamos testemunhando".

O Cardeal recordou as palavras de Pio XII em 24 de agosto de 1939, poucos dias antes de eclodir a Segunda Guerra Mundial: "Que os homens voltem a entender-se. Que voltem a negociar. Descobrirão que as negociações sinceras e eficazes nunca são excluídas de um sucesso honroso". O Cardeal Parolin falou das divergências entre as igrejas, como São Paulo testemunha na origem do cristianismo, exortando a superá-las. Disse também que viu sinais encorajadores nos apelos dos chefes das Igrejas Ortodoxas, que se mostram disponíveis a deixarem de lado a memória das feridas recíprocas e trabalhar pela Paz.

Os acontecimentos dos últimos meses, não fizeram nada além de alimentar a surdez recíproca, levando a um conflito aberto. "As aspirações de cada país e a sua legitimidade devem ser objeto de uma reflexão comum, num contexto mais amplo e, sobretudo, levando em conta as escolhas dos cidadãos e no respeito pelo direito internacional, ajuntou o Cardeal."

A história confirma que isso é possível. É muito doloroso ver jovens pais, na casa dos 20 anos, a se despedirem das jovens esposas que partem assustadas com bebês nos braços; os homens ficarão para lutar e morrer. Um conselheiro do Ministério do interior, "confirmou que 18 mil armas foram distribuídas em Kiev para todos os voluntários, para todos os que querem defenderem a nossa capital com armas nas mãos para lutar e morrer." As redes sociais têm mostrado uma frase que tenta resumir o panorama, embora de modo simplicista: "A guerra é um lugar em que jovens que não se conhecem e não se odeiam se matam por decisões de velhos que se conhecem e se odeiam, mas não se matam".

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