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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

28/07/2024 08:00

No próximo dia 9 de agosto a Casa de Saúde dos Irmãos de São João de Deus, celebra solenemente o centenário da sua chegada à Madeira. Como vizinho desta Instituição, os meus pais e familiares, falaram-me desde tenra idade desta Casa e trouxeram-me até à pequenina capela da Quinta do Trapiche, que pertencera à nobre Senhora Dona Maria Paulo G. Rego e a oferecera ao Bispo do Funchal, Dom Manuel Agostinho Barreto.

Desabrida e aberta luta foi movida pela então poderosa maçonaria e liberalismo contra a entrada dos Irmãos de São João Deus, numa oposição à Igreja e ao Bispo para que os doentes alienados da Madeira, aglomerados no manicómio para mulheres e homens na Casa Câmara Pestana em São Gonçalo, não viessem residir e hospedar-se na Quinta do Trapiche.

No ano de 1907, o católico Doutor João Francisco Almada grande amigo e protetor dos Irmãos de São João de Deus, juntou-se a outros seus amigos e foram pedir ao Bispo Dom Manuel Agostinho Barreto, homem destemido e valente que ousava enfrentar a maçonaria, recebia agora este pedido dos bons cristãos da sua diocese para uma obra tão meritória. Tendo conhecido o pedido, a maçonaria opôs-se frontalmente porque não queria favorecer mais “jesuitismo” na Madeira. Ponto final.

Quem não se arredia à propaganda dos mações era o valente filho da Igreja, Doutor Francisco de Almada que em 1921 pergunta ao Senhor Bispo do Funchal se estava

disposto a ceder uma parte da Quinta do Trapiche, que fora doada à diocese pela Dona Maria Paula Rego aos doentes, para que viessem os Irmãos da Ordem Hospitalária de São João de Deus.

Num tempo nada favorável a ordenação de padres, o bispo permitiu que um grupo de jovenzinhos se preparassem para o sacerdócio na Quinta do Trapiche. Segundo me disse mais tarde um bom cristão que fundou o grupo desportivo Marítimo e até lhe deu um diretor espiritual, a casa não servia para seminaristas, porque as mocinhas da Barreira, Trapiche e Laranjal eram simpáticas e namoravam os seminaristas.

Não vingou um para amostra, embora mais tarde reluzissem abundantes e bons frutos.

No ano de 1922, dois Irmãos vieram ao Funchal, visitaram a Quinta de género inglês, com casa, capela, árvores centenárias, alamedas de grandes carvalhos, lindas flores, floresta que ainda recordo de ter visto, quando meus pais me levavam muito

pequenino à missa dominical na capela que infelizmente foi destruída, quando foi construída a grande capela atual que, meu primo Frei Manuel Pimenta emoldurou com madeiras e pinturas, como ainda hoje se encontra. Ele tornou-se muito conhecido pelos belos e grandes presépios que no Natal eram visitados por milhares de pessoas, participando com ele com meu tio José, vestidos de pastores, tocando e cantando os conhecidos cânticos madeirenses.

A inauguração oficial da Casa realizou-se a 10 de agosto de 1924.

No princípio os Irmãos viviam com muitas dificuldades, tendo o bom povo da zona do Funchal, organizado romagens com muitas ofertas, árvores com notas de papel, animais, frutas, galos e galinhas, sendo a romagem mais concorrida no dia de Reis. Felizmente, foi realizada a estrada horizontal entre o Boliqueme e o Trapiche, porque as estradinhas antigas eram todas do sul para o norte, com muitos degraus ou terra batida.

Minha tia Augusta Faria, que distribuía bordados pelos sítios, recolhia ofertas aos domingos para os doentes e Irmãos e gostava que o sobrinho de poucos anos fosse com ela, eu não gostava muito de andar tanto, contudo recebia muitas guloseimas, que trazia para casa para meus irmãos e primos. A minha família nunca faltou um domingo à missa e todos os dias em casa rezávamos o terço, o que ainda fazemos todos os dias. Gostava das devoções do mês de maio e outubro na capela dos Irmãos, pela tarde e vinha com meus familiares todos os dias. Para as Missas do Parto da Virgem Maria tinha de descer muito cedo até Santo António, assim como para o batismo, primeira comunhão aos cinco anos e crisma aos sete, assim como para missa nova de sacerdote aos 26.

Apesar das grandes dificuldades materiais, devido termos muitas terras de cultivo e animais, nunca tivemos fome, e dávamos muitas ofertas aos pobres que saco às costas chegavam a minha casa. Um deles, talvez porque fui eu que lhe entreguei a oferta ele disse a minha mãe que eu seria Padre e iria estudar para Roma. Minha tia sorriu e diz: “quem vai pagar as despesas?

Recordo o bondoso Irmão Herminio que cuidava dos porcos e vacas, de levar-me nos domingos com minhas tias, após a missa visitar os seus animais e rezar a Santo Antão para os proteger.

Ao relembrar estes e outros factos, recordo os “Fioretti de São Francisco de Assis,”

e a frase de Dostoyevsqui: “A beleza salvará o mundo”.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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