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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

4/08/2024 08:00

Os Bispos diocesanos do Funchal, tendo em conta os cristãos disseminados pelas elevadas encostas da paróquia de Santo António, desde o ano de 1606, com o Bispo Dom Luís Figueiredo de Lemos, numa visita pastoral à paróquia de Santo António, determinou a construção de uma capela no sítio do Trapiche, mas só passados dois séculos é que o capitão mor António de Gouveia Rego, que possuía terras no sítio do Trapiche, pensou construir à sua custa uma capela a São João e Santana, com a data de 6 de abril de 1791.

Na realidade, quem a construiu, foi o seu filho João António de Gouveia e sua esposa Dona Maria Paula G. Rego, capela que foi benzida a 14 de agosto de 1816.

Diversas personagens ilustres vieram passar aqui férias nos meses de verão, na casa contígua à capela, entre eles os Bispos diocesanos Dom Patrício Xavier de Moura, Dom Aires de Ornelas de Vasconcelos, Dom Manuel Agostinho Barreto e Dom António Manuel Pereira Ribeiro. Dom Manuel A. Barreto, nos meses de verão, percorria estes sítios com frequentes passeios, mostrando uma predileção que não usava ocultar. O poeta António Nobre, doente, que viveu no sítio do Boliqueme, percorreu também estes sítios deixando escrito numa árvore: “sede de imensa luz como a dos para-raios”. O Salmista (Sal. 66) teve pedido diferente: “Deus se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós, a luz do seu rosto”.

Quem veio iluminar as consciências no Trapiche, foram os padres, ajudados pelos incansáveis religiosos que tratavam os doentes e os trouxeram às costas desde a igreja de Santo António, por falta de autocarros.

O primeiro foi o Padre José Maria Antunes da Ordem Hospitaleira de São João de Deus, que chegou à Madeira em 1924.Não conheci este sacerdote, mas os meus familiares falavam dele com muito carinho e louvor. Ainda hoje, falam dele como um padre santo, humilde, serviçal, venerado por aqueles que assistiam à sua eucaristia, pregação e no confessionário teve uma missão importante e decisiva na vocação religiosa de Maria do Monte, mulher com grande capacidade de trabalho e catequista exemplar, que se confessava com o Padre Telésfero de Santo António, que se opunha à sua saída de casa e serviços de catequista. A Elisa não queria tomar uma decisão sozinha começou a frequentar a capela do Trapiche e a confessar-se com o Padre José Maria que tomou como seu diretor espiritual. Quando o Padre José Maria em 1925, deixou a Madeira,

integrou o primeiro grupo de Irmãos para Moçambique como missionário onde celebrou o Jubileu dos 50 anos de ordenação sacerdotal, no Infulene.

Quando deixou a Madeira, escreveu um documento sobre a Elisa, tendo-a aconselhado: “a que se mantivesse firme e que implorasse a luz do céu para ela e seus irmãos, para que tudo se resolvesse conforme aos desígnios do Senhor”. Mais tarde o Padre José Maria foi informado que a Elisa se encontrava na Congregação do Sagrado Coração de Jesus.

O segundo capelão foi o Padre Bernardino de São José que viera do continente com receio da tuberculose. Era um Sacerdote muito culto, que preparava bem as homilias, e as catequeses nos domingos de tarde com a capela cheia de pessoas. Conheci o Padre Bernardino quando já estava na escola e frequentava a catequese em casa de uma catequista, mas nos domingos ia de novo à capela. O Padre Bernardino tinha um grande poder de transmissão da Palavra de Deus, era um grande pedagogo para o seu tempo. Trouxe para a capela um quadro preto com giz, nomeou dois secretários para escreverem o que ele mandasse: eram eles o Teodoro, filho do Faria e a Teresa, filha do Senhor Castro.

Devido à nossa pequenez só conseguíamos chegar até metade do quadro de meio para baixo. O Padre Bernardino incutia-nos um grande amor à Sagrada Escritura, ele próprio tinha escrito um livro sobre os Salmos, que me ofereceu, e está na origem dos meus estudos de Bíblia em Roma e Jerusalém. Um dia em que cheguei mais tarde à capela ele perguntou: “Onde está o Teodoro, filho do Faria que quer ser Padre?” Quando me Disseram fiquei muito admirado e contente.

A experiência de família não tinha sido muito feliz, meu primo Abel tinha frequentado o Seminário, mas comportou-se mal, levou um garrafãozinho de vinho tinto que guardava debaixo da cama para beber com o amigo Álvaro, filho do sacristão de Santo António que, felizmente, foi ordenado de padre.

Mais tarde, quando fui ordenado sacerdote, o Padre Bernardino publicou Os Salmos e Cânticos do Breviário, Nova Edição Atualizada, pulicada pela Difusora Bíblica em 1959. Ofereceu-me um exemplar com esta dedicatória: “Ao caro Padre Teodoro de Faria para que se lembre sempre em suas orações do amparador da sua meninice espiritual”. Nunca o esqueci nas terras da Bíblia e de uma forma especial neste Centenário da Casa de São João de Deus.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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