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Artigo de Opinião

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7/12/2024 08:00

Todos nós temos pessoas que passam pelas nossas vidas para demonstrar algo, trazem uma aprendizagem. Felizmente, espera-se que a maioria sejam boas pessoas.

Nisto, muitos de nós têm ou teve uma tia. Uma tia que vivia emigrada. Essa minha tia era a minha tia Vera, irmã da minha avó. Era uma mulher cheia de energia e cheia de vida. Infelizmente, partiu na passada sexta-feira (29/11).

A tia viveu emigrada em Inglaterra, trabalhou na limpeza na Imperial College of London, casou-se com outro emigrante do Alentejo, de Grândola. Foi uma pessoa muito resiliente na vida, partiu de uma terra sem oportunidades há mais de 60 anos.

Cuidou do marido como ninguém, com uma disciplina militar, quando tinha as irmãs que possuíam diabetes, fazia uma alimentação mais dietética que um qualquer nutricionista. Recordo-me que, quando a minha outra tia ia passar uma temporada com ela, desejava logo regressar à Madeira.

Quando se reformou, a minha tia Vera regressou a Portugal, mas não para a Madeira, foi para Grândola, a terra do marido, comprou uma casa para viver os seus últimos 20 anos de vida, ao lado do seu amado marido.

Quando fui estudar para o continente, fui algumas vezes visitá-la, não tantas como gostaria, pois, era bom lá ir, como uma forma de mitigar as saudades da família. Uma das vezes, foi fundamental para a minha progressão académica, nomeadamente, porque fui lá fazer um quase “retiro” para estudar Física Atómica e Molecular e correu bem, pois passei esse cadeirão.

Ela era um furacão, mas com muito discernimento. Sempre que os meus filhos nasceram enviava as fotos deles para ela, e ela sempre enviava também um postal com uma nota para os pequenos, algo que antes fazia para mim no Natal, atitude de carinho típica de uma avó.

Há 3 meses, ela chamou a outra irmã para decidir a sua vida, uma mulher com mais de 80 anos, sentiu que já não tinha forças para cuidar de si e do seu amado marido e decidiu que era tempo de ir para um lar, sem nunca pedir ajuda a ninguém para nada, já que não teve filhos. Definiu tudo. Ela sempre foi assim.

Então foi para um lar com o seu amado marido para passar os últimos anos da sua vida, que infelizmente foram meses.

Nas últimas semanas, caiu, partiu uma perna e abriu a cabeça.

Infelizmente, na passada sexta-feira, recebo uma chamada de um número que desconhecia a perguntar se era o Eduardo Nuno, eu pergunto quem era e apercebo-me de que era um português mais ritmado do que o meu ouvido está habituado, logo só podia ser alentejano. Era o meu tio João com uma voz trémula a dizer: “A tia Vera faleceu. Mas ela ainda falava, apesar de ter deixado de comer... estou muito triste!”

Estas de saudade a todas as tias, mas também as dedico a todos os emigrantes que um dia desejaram regressar e abdicaram de tudo por todos! A tia Vera faleceu. Que Deus lhe dê o céu, ou, numa corruptela popular madeirense, Dê’ lhe d’o Céu!

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