A Madeira vive, neste 2024, o ano de maior instabilidade política dos seus quase 50 anos de Autonomia. O conjunto de ações judiciais que marcaram o ano político trouxeram por arrasto a imprevisibilidade governativa, a dúvida dos equilíbrios parlamentares. Começámos a enfrentar um ciclo “eleições- operações judiciais – queda do governo e dissolução da ALRAM-novas eleições”, cuja corrente não se afigura simples de quebrar. Estamos na verve de novos momentos-chave, com orçamento chumbado e, por maioria de razão, moção de censura condenada a passar. Neste sentido o PSD não pode voltar a ter parceiros, formais ou tácitos, que votem contra os orçamentos, que se abstenham em diplomas fundamentais, ou que não sejam ativamente contra moções de censura. Sou um pragmático, mas “entendimentos” com o PAN... estamos conversados!
A verdade é que existe uma sensação difusa de que a estabilidade não chegará após o resultado das obrigatórias eleições que se seguem à moção. O plano do Ministério Público parece ser o de “investigar às pinguinhas”, de entre um rol de casos/denúncias que tem em carteira. Ou seja: invés de investigar todas as delações que recebeu relativamente à governação do PSD, de uma vez, se realmente considera que existe credibilidade nas mesmas, entretém-se a desferir machadadas na estabilidade da Região sempre que esta se procura reerguer após mais um processo eleitoral. Não questiono aqui o conteúdo, por desconhecer a matéria de facto em causa, mas a forma, que indubitavelmente prejudica a Região.
Sendo eu, um “otimista irritante” (e talvez mais a segunda que a primeira, concedo) gostaria de poder dizer que a Madeira e o PSD sobreviverão a todas estas tormentas. E coloco em paridade o meu partido e a minha Região, pois quer a oposição queira, quer não queira (e não aplico esta expressão por distração, obviamente) existe uma sã confundibilidade entre estas duas entidades. Sendo excelente material de estudo para os cientistas políticos do amanhã, continua a existir uma empatia e vínculo entre o cidadão madeirense e o Partido da Autonomia, que serve de rede de proteção a maiores quedas eleitorais por parte da rua dos netos. Como sabemos, até nos municípios em que medram outras cores, o voto na regionais é laranja pois a tríade “Madeira- Autonomia – PSD” é uma associação lógica e segura. No entanto, estamos a chegar a um ponto em que é o próprio projeto social-democrata, personalista, liberal na economia, mas com forte pendor social, que pode estar em causa. E, consequentemente, a Madeira. É difícil defender a Autonomia, e o PSD é o único que o faz verdadeiramente, em tal ambiente de envenenamento político. É a sobrevivência destes dois vetores que se discutirá em 2025. Nesse sentido, é imperioso que o interesse coletivo se imponha sobre o individual. A existência de interesses pessoais é legítima, desde que legais, diria mesmo morais, na política ou noutra qualquer atividade. Mas vivemos momentos de exceção. Recordo as palavras de um destacado dirigente num conselho regional no Porto Moniz, cujo nome omito para que se não distraia a mensagem pelo mensageiro, em que este dizia: “podemos não gostar de fulano tal. É legitimo! Mas é melhor que o eleito seja esse sujeito, que é competente e é um de nós, ou preferimos que seja um impreparado de outro partido?”. Ultrapragmático? Sem dúvida. Mas concernente. É indispensável que o partido de Ornellas Camacho, Alberto João e Miguel Albuquerque, se una e encontre as soluções para que nossa nau conjunta, Madeira e partido, encontre finalmente ventos de estabilidade. Até porque não teremos eternamente Cafôfo ao leme do PS como garantia que o partido rosa não sai da mediocridade eleitoral. E é imperioso que a Madeira esteja a salvo de putativas soluções “geringoncicas”, que reúnam PS, JPP (que trocam acusações graves, a roçar o insulto, diariamente) e... CDS. Ou alguém tem dúvidas? Para o PSD até seria bom, pois em pouco tempo essa coligação se desmouraria. Mas para a Madeira seria mais um rude golpe, com a agravante que todo o ganho de pujança governamental iria por água abaixo. Porque, de facto, o desempenho económico e a proteção social atingiram números nunca vistos. O problema não reside na proficiência governativa, mas na credibilidade das instituições e dos atores políticos. E aqui incluo todos, não ficando de fora uma oposição sem projeto, sem iniciativa política e legislativa, que se comporta como interlocutores duma Assembleia de Freguesia, daquelas bem pequeninas e rústicas, e que parece julgar que uma embarcação como a RAM pode ser conduzida por qualquer paquete aspirante a arrais!