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Artigo de Opinião

Investigador na área da Educação

13/12/2021 07:00

Estamos a falar nas "muito grandes empresas", responsáveis por 42% dos postos de trabalho acrescentados à economia desde o final do verão do ano passado e no setor público, que chegou ao final de setembro com mais de 722 mil trabalhadores. Por outro lado, conclui-se, também, que uma parte significativa do emprego, que está a ser criado, após a fase mais aguda da pandemia, está a praticar salários mais baixos e com contratação a prazo.

Concretamente, com base nas declarações de remunerações entregues à Seg. Social e CGA, o INE contabilizou 1,17 milhões de trabalhadores nas grandes empresas. São, face a setembro de 2020, mais 55,3 mil trabalhadores, num crescimento de 5%. Em contrapartida, e em sentido contrário ao que sucede no resto do setor privado, o valor do salário médio regular nas grandes empresas recuou, em termos homólogos, 0,6%, caindo de 1300 para 1293 euros brutos. Quando se olha para o emprego público a Administrações Pública, na sua globalidade, chegou no final do último trimestre com 722,3 mil trabalhadores, sendo mais 15,4 mil que no mesmo período de 2020 (+ 2,2%). No entanto, o salário médio regular desceu em 0,1%, para 1580 euros brutos.

Parece, portanto, que o aumento do emprego, que se vai assistido, se estará já a fazer "à custa" do decréscimo do salário médio e também muito em contraciclo com os aumentos do salário mínimo (que em 2022 tem um aumento já anunciado, pelo atual "Governo de Costa", de + 6%).

Mas, a este cenário, assim descrito, devemos ainda acrescentar o fator inflação (em 2022 sempre acima dos 1%), para além enorme carga fiscal sobre o Trabalho. O que nos coloca, portanto, na clara evidência da redução de rendimentos, que os trabalhadores naquelas condições estão sujeitos e que se vaticina irão manter-se futuramente.

Cruzando ainda este diagnóstico com o recente estudo da FFMS "Os jovens em Portugal, hoje" verificamos, num trabalho interessante e com a dimensão que os estudos da Fundação nos habituaram, que para os jovens em Portugal, naquilo que na perspetiva do Trabalho mais os seduz é em primeiro lugar, o aumento salarial e depois a estabilidade no emprego (carreira), os fatores de relevo para sua vida profissional. Tudo isto, num universo diagnosticado, pelo referido estudo, que aponta para 3 em 4 jovens, que trabalham, ganharem valores líquidos até 950 euros por mês e metade, que trabalha por conta de outrem, não ter um vínculo laboral efetivo, não descartando a possibilidade de procurar fora melhores condições.

Retomar aquilo que vinha sendo uma trajetória de recuperação salarial, no sentido de valorizar um salário médio abrangendo a denominada "classe média" e com isto esbater o "fosso" entre ricos e pobres e contrariar aquilo que é a anunciada dualização da sociedade, com todos os efeitos negativos que isto tem, deveria ser desígnio público prioritário. E, quem sabe, nada difícil de começar a contrariar, em Portugal, se considerarmos, para 2022, como aponta a OCDE para um crescimento de 4,9% (a Comissão Europeia e o Cons. das Finanças Públicas esperam, até, 5,1% à semelhança do FMI).

Nunca é por demais renovar que o grande desafio, que se coloca a Portugal, é do crescimento, onde a competitividade acaba desempenhando um papel crucial e onde os mais quilificados são imprescindíveis.

Pelo que cumpre inverter uma tendência, cada vez mais evidente e incontornável - a manter-se o cenário anterior -, de deixar "fugir" os mais capazes e habilitados. Portugal, como Estado membro da UE, é dos países que vem tendo uma taxa de "emigração qualificada" das mais elevadas. Urge não perder, ou atrair até, cada vez mais os melhores - sobretudo, nos "setores" de maior impacto pelo fator de arrastamento social e económico, sabendo-se que dentro de um espaço globalizado, no qual nos posicionamos, se não podem impor quaisquer restrições à livre mobilidade das pessoas.

Eduardo Alves escreve
à segunda-feira, de 4 em 4 semanas

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