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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

24/12/2023 08:00

Escrevo para os meus caros leitores, que me animam a não deixar de escrever aos domingos para o JM, dizendo-me que nesta terra tão cristã não se encontraram escritores de temas religiosos, embora não lhes faltem mui dotados pregadores. É certo, Jesus não mandou escrever, mas pregar. Foi Paulo de Tarso, um convertido, o primeiro a escrever cartas admiráveis e inspiradas por Deus.

Nasci numa família cristã onde nunca se faltou à missa nos domingos e, no tempo de Natal, erguia sempre um grande presépio, mas nada comparado ao que o meu primo Frei Manuel Pimenta apresentava na Casa de Saúde de São João de Deus, que os romeiros das paróquias vizinhas visitavam e traziam ofertas de frutos, galos e galinhas, no grande Dia de Reis.

Estudante em Roma, como todos os romanos, frequentava a Praça Navona, onde resplandecia o encanto e criatividade dos presépios e os olhos das crianças, que entravam e saíam da belíssima igreja de Santa Inês. Tinha saudades das Missas do Parto, que o Concílio Vaticano II defendeu para a Piedade Popular. Com o madeirense Padre Rufino fui convidado a celebrar as missas de Natal numa paróquia no norte da Itália, dentro do comboio aquecido alegrei-me ver os campos e montes repletos de neve a brilhar ao sol, mas dentro da Igreja, sem aquecimento, nunca senti tanto frio como nessa noite, apesar de estar repleta de fiéis, e só consegui elevar o cálice após a consagração depois de embrulhar as mãos numa toalha de altar. Durante o dia, cantámos os dois, os cânticos das missas do Parto e Natal que, mais tarde, o músico Padre Rufino, havia de compor dois volumes, com cânticos para não se perder a memória deles.

O Natal mais belo da minha vida, aconteceu no ano de 1962 quando de Jerusalém, então estudante na École Biblique, fui com outros colegas a pé pelas estradas antigas, como fizeram Maria e São José. Celebramos a eucaristia na gruta de São Jerónimo à meia-noite, depois de algum repouso, fomos a pé, com lanterna acesa para o campo dos pastores, onde os anjos haviam cantado, visitámos as grutas dos pastores e, de novo, subimos para a gruta de Belém que estava repleta de fiéis. Voltamos a Jerusalém onde os árabes trabalhavam e acarretavam cargas como nos dias habituais de trabalho.

No ano de 2002 fui a Roma no princípio do ano, na Praça de São Pedro o presépio continuava a alegrar os visitantes, muita gente se apinhava para ver uma gatinha com dois filhotes que se instalara no presépio entre a vaca, o burrinho e os reis magos. Quando o frio apertava enroscavam-se na palha do Menino Jesus que, já estava nos braços da Virgem Maria. Os gatinhos parece que nasceram na gruta, aproveitando o calor das lâmpadas que iluminava toda a cena mística.

A gata parecia cidadã do Vaticano, era de cor negra igual à batina dos padres que não eram Monsenhores. A polícia que controlava a Praça, tinha o gosto dos romanos que sempre cuidaram dos gatos, que se apoderaram das antiguidades, as senhoras velhinhas levavam-lhes alimentos. Pior foi no tempo da guerra com a fome, os gatos desapareceram, não sabemos como. A cidade ficou muito triste, mas os americanos enviaram um barco cheio de gatos e gatas que povoaram as antigas moradas junto da pirâmide e os romanos os alimentam muito felizes.

Os gatos do presépio deviam ser cuidados pela polícia que fizera tréguas de paz com os gatinhos e deviam alimentá-los. Um dos filhotes era de cor negra, como a batina dos padres que não eram Monsenhores. A mãe gata colocava-o no cofre dos reis magos a ver a paisagem, um outro gatinho, já preto e branco, preferia sentar-se dentro do cesto dum pastor. Eles olhavam curiosamente os turistas que os fotografam e sorriam. Realizava-se as imagens poéticas do Profeta Isaías.

Não se pagava pela fotografia dos gatinhos, nem também colocavam ofertas no cestinho do Menino Jesus. Quando chegou a Festa da Visitação a 2 de fevereiro, a família dos gatinhos teve a mesma sorte das famílias dos pobres, foram despejados da gruta.

O grande São Francisco de Assis defendia os animais, mas alimentava os pobres. Nunca feri um animal, mas enquanto houver pobres com fome preocupo-me com eles. Fico triste com as clínicas especializadas para animais e, até, hotéis de luxo, sem haver preocupação com os alimentos, casa e cuidados básicos para crianças e velhinhos da terceira idade. Não sou adepto do PAN, mas estou de acordo com a defesa da floresta e dos animais. Dizia o humorista Alec Guiness: “Se tiveres de atravessar uma estrada na Inglaterra, leva um cachorrinho. Nenhum inglês atropela o cão.”

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