Na paróquia de Santo António do Funchal, nasceu em 1897 uma menina que, no batismo, recebeu o nome de Maria Elisa, entrando na Congregação das Irmãs Hospitaleiras, recebeu o nome de Maria do Monte, em 3 de abril de 1933. Encontrava-me em Roma em março de 2004, quando o Postulador me pediu para iniciar no Funchal a Causa de canonização desta religiosa, natural da Madeira e da minha freguesia de Santo António.

Escrevi um livro com recordações da sua vida e, este ano, fiquei muito satisfeito porque a Congregação para a Causa dos Santos a declarou Venerável, o que significa que agora, só falta um milagre para ser declarada Beata. Numa bela e sugestiva festa a 26 de abril deste ano, na Casa das Irmãs Hospitaleiras em São Gonçalo, realizaram uma sessão solene com muitas atividades culturais, sendo algumas de grande relevo artístico.

Nesta ocasião pediram-me para explicar em palavras fáceis, aquilo que é difícil descrever com palavras teológicas: "O que significa uma pessoa mística".

Será a mística o privilégio de um reduzido número de almas chamadas por Deus a viverem um estado de maior perfeição e seguimento de Jesus Cristo? Serão os fenómenos externos o aspeto mais importante e, mesmo o único, que constitui o Misticismo cristão.

A palavra mística deve derivar do grego "myo" que significa fechar, donde vem a palavra místico, que significa arcano, secreto, referindo-se a qualquer coisa que deve ficar fechado no mais íntimo da pessoa. Daqui deriva também a palavra mistério que significa projeto salvífico de Deus, manifestado aos seus filhos eleitos, ou então é o testemunho do amor misericordioso de Deus para os homens e mulheres. Os bispos franceses, ao falarem da fé no tempo atual, dizem que a experiência pessoal de Deus, é proposta a todo o povo cristão.

A experiência pessoal de Deus é testemunhada na Igreja por pobres, ricos e simples, homens e mulheres que sabem rezar e amar, eles percebem esta luz de Deus e a irradiam, pensai nas palavras de Jesus: "Eu te bendigo ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos" (Mt 11-25). O Papa Bento XVI, numa catequese disse: "Queridos amigos, esta experiência permanece importante, como nunca, para nós, hoje, para encontrar os critérios que, nos indicam se estamos realmente próximo de Deus, se Deus existe e vive em nós, se permanecemos unidos a Ele com a oração e a escuta da sua palavra com a abertura do coração."

A espiritualidade da infância espiritual de Santa Teresinha do Menino Jesus "o pequeno caminho," era conhecido destes grupos de pessoas. A Santa de Lisieux não refere dons místicos, exceto um leve aceno da Senhora do Sorriso e foi de uma grande simplicidade extraordinária.

Julgo que podemos chegar à conclusão que todos somos chamados à vida mística, será esta a estrada por onde devemos caminhar. Hoje, repete-se o pedido do regresso ao interior de si mesmo, para se encontrar consigo mesmo. O nosso batismo exige que se inicie essa viagem para a perfeição, ela faz parte dos sacramentos de iniciação cristã. Santa Teresa de Ávila e São João da Cruz apontam esta doutrina que faz parte da tradição patrística, cujo itinerário faz parte dos sacramentos de iniciação cristã.

A mística é uma experiência de Deus, nasce do Seu Espírito Santo, surge no mais profundo da alma humana, é muito difícil explicá-lo e traduzi-lo em palavras humanas. Segundo alguns geniais pensadores cristãos, as experiências de fé cristã e a mística autêntica, sentem que não têm lugar no mundo materialista em que vivemos, quase envergonhados de aparecer em público, afastados dos meios televisivos, mas no seu interior mais profundo, habita um Ser que São Paulo exprime de uma forma inspirada: "Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim".