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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

17/09/2023 08:00

A 5 de setembro deste ano, faleceu santamente em Lisboa o Padre António Vidal Pereira Dias, sacerdote da Diocese do Funchal, natural da Ribeira Brava, com a vetusta idade de 92 anos. Fazia parte daquele abençoado grupo de sete seminaristas que se prepararam para o sacerdócio, só um deles não recebeu a ordenação, seguindo para o Brasil.

Quando o jovem Vidal entrou no Seminário, há muitos anos que da sua paróquia, não aparecia uma vocação sacerdotal, quando no passado tinha sido berço de célebres padres, um deles o jesuíta autor da celebérrima Gramática Latina. Desta forma dizia-se do Vidal, o que o apóstolo Natanael dissera ao discípulo João, que afirmava ter encontrado o Messias, natural de Nazaré, ao que Natanael respondeu: "de Nazaré pode vir coisa boa?" O mesmo se dizia do rapazinho da Ribeira Brava. Todos eles também se enganaram, o Padre Vidal, foi um especialista na vida espiritual, um eremita não do deserto, mas do centro das cidades materialistas dos nossos tempos.

O Reitor do Seminário, Cónego Barreto, era um sacerdote amigo da grande liturgia da Igreja, recebeu a influência do cântico gregoriano na França no tempo da guerra. Nos domingos, na liturgia do Seminário só era permitido o gregoriano pelo "Liber Usualis". Três alunos do meu Curso desciam depois até à Catedral para de novo cantar a Missa do Cabido. Dizia o Reitor, que os alunos que apreciavam este cântico litúrgico era um sinal de vocação sacerdotal. O Canto não é um elemento decorativo, a Igreja sempre intuiu a riqueza escondida na linguagem musical e introduziu-o sempre na liturgia, como ação significativa de uma assembleia que exprime com o cântico a própria fé e o louvor a Deus.

O Vidal tinha boa voz para cantar, para os estudos teológicos e piedade profunda para a Mãe de Jesus e São Pedro, o santo da sua paróquia. No fim do curso, em 1955 foi ordenado sacerdote. A diocese tinha recebido com apreço os movimentos da Ação Católica, espalhados em todas as paróquias, os jovens padres amavam a JOC masculina e feminina, as professoras eram geralmente membros da JEC, as escolas eram locais de vocações e de grupos de grande espiritualidade. O Padre Vidal encarregava-se destes movimentos femininos e até das professoras com retiros e fins de semana na Casa de Retiros da Camacha e encontros no Funchal. Foi um dos três padres que foi ao Porto tomar contacto com os Cursos de Cristandade que, nessa ocasião, transformava pecadores e ateus em cristãos fervoroso e apóstolos no seu meio.

Após o 25 de abril a revolução dos cravos, entrou em força nos meios católicos, causando

devastações até nos padres. O Padre Vidal sofreu um grande choque, foi criticado de ser

inútil para a juventude, foi enxovalhado, vários dos seus jovens vieram estudar para Lisboa. Sofreu um golpe tão forte que pediu ao bispo para sair da diocese, tendo o Bispo colocado em Lisboa no movimento marítimo, e na casa dos padres, onde tinha capela e diversos quartos. Orava intensamente pelos padres, e nunca mais quis vir ao Funchal. Quando de Roma eu vinha para o Funchal, hospedava-me na sua casa, acontecendo o mesmo com o Bispo Dom. Maurílio, acompanhando-o até quando ia consultar o médico ao norte da Espanha.

Um dos momentos mais felizes da sua vida foi a peregrinação à Terra Santa na Páscoa, e depois a viagem a três, num carrinho velho alugado aos árabes, correndo pelo centro de Israel, pelos lugares que eu tinha mais visitado quando estudava em Jerusalém. O Dom Maurílio conduzia o carro, eu dava explicações, o Padre Vidal comprava alguns produtos para a viagem. A estrada que tomámos não era visitada por outros peregrinos que seguiam pela via marítima ou o rio Jordão. Visitamos Anatote, a pátria do profeta Jeremias, o Poço de Jacob onde bebemos água, Silo, antigo Santuário, os Samaritanos e, finalmente, Nazaré. No mosteiro das clarissas contemplativas, falei do Padre Charles de Foucauld que passou alguns anos em meditação sobre a vida humilde e silenciosa de Jesus durante 30 anos. Foi um dos lugares mais belos para o Padre Vidal, oração, silêncio, contemplação, oração pelos sacerdotes. Visitamos depois o Monte Tabor, os santuários do lago de Genesaret, Jericó, Belém e, após uma semana, o Dom Maurílio e o Padre Vidal retornaram a Lisboa enquanto subi novamente a Jerusalém para a Páscoa ortodoxa.

Em Lisboa o Padre Vidal foi confessor e diretor espiritual da Obra de Santa Zita, foi Secretário da Comissão Episcopal dos Leigos. Teve a dita de ter uma senhora vinda do Funchal, a Senhora Tereza, que assistiu aos seus últimos dias que, tanto no hospital como em casa era considerado um santo que sofria e orava pela Igreja e os sacerdotes. Escreveu o Cardeal Sarah que a Igreja é feita para adorar e rezar. Aqueles que são o sangue e o coração da Igreja, devem orar ou secarão o corpo inteiro da instituição criada por Jesus Cristo."

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