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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

9/07/2023 08:30

Israel é um povo marcado pela emigração, não é um modelo para inspirar os nossos tempos.

Há três mil anos atrás, consideremos como Deus nos quer falar do estrangeiro. Há dois períodos importantes na história de Israel para Deus nos mostrar a figura do emigrante, na servidão do Egito e no exílio em Babilónia. A figura do peregrino migrante exemplar é Abraão, o amigo de Deus, com ele nasce um povo marcado com o sinal do migrante. "O Senhor disse a Abraão: Parte do teu país, da tua família, da casa de teu pai para o país que eu te vou mostrar. Eu farei de ti uma grande nação, e eu te abençoarei e tornarei grande o teu nome" (Gen. 12,1-21).

Esta migração é marcada por uma promessa feita a Abraão, será uma grande nação. Receberás o dom de uma terra. Para que se realize a promessa Abraão deve tornar-se um estrangeiro. Deus compromete-se com esta longa viagem do pai dos crentes. Este emigrante é a figura de um novo povo.

Mais tarde, os filhos de Israel emigram para o Egito, devido à fome que grassou em Israel. Eles terão de construir grandes cidades que os egípcios se negam erguer, metem medo devido ao seu crescimento, sofrem agora por causa do aumento demográfico, são tratados como escravos. Apesar de terem passado no Egito tantos anos e deixado muitas construções, são tratados como inimigos, Deus age de muitas formas em favor dos oprimidos.

Esta memória dos emigrantes marcou fortemente a Aliança, de Deus com o povo, a Torah (Lei), vai insistir fortemente para o seu povo amar o estranho, o outro, como a si mesmo, lembrando que ele foi estrangeiro no Egito.

A Igreja é também marcada por esta memória dos emigrados, ao seu sofrimento, rejeição e desdém, Israel não escapou a esta rejeição, não evitou insegurança ao estrangeiro na sua terra.

Com os profetas, o reencontro com o estrageiro dá à Aliança todo o seu sentido, ela é para toda a humanidade.

Isaías rejubila: "As nações marcharão à tua luz, e os reis à tua claridade nascente, olha para os arredores, todos estão reunidos em conjunto, Eles vêm para ti" (Is. 60.3).

Migrações no Novo Testamento

Com a vinda de Jesus, os profetas já tinham anunciado um novo sentido para a história humana. A missão de Cristo é introduzir toda a humanidade, sem excluir raças ou culturas numa comunidade de amor universal, o estrangeiro torna-se um irmão. "Com efeito, há um só Deus, escreve São Paulo, e um só mediador entre Deus e os homens, é Jesus Cristo homem, que se entregou a si mesmo para a redenção de todos" (1 Tim. 2,5).

Pela mediação de Cristo, não há mais fatalidade, para a ira ao estrangeiro, tombou o muro da separação, todos somos membros da família de Deus.

Na época de Jesus, na Palestina, as fronteiras entre israelitas e estrageiros eram radicais. A pureza ritual era determinada pela Lei, a Torah, com determinações rituais muito precisos. O estrangeiro era considerado um impuro, não era permitido tomar uma refeição com ele.

Jesus veio reversar uma lei que era muito antiga. Os fariseus eram os grandes defensores entre o puro e o impuro, Jesus, no Bom samaritano, narrado por São Lucas, mostra como o estrangeiro se tornou um verdadeiro irmão do viajante roubado e ferido na estrada entre Jerusalém e Jericó. O amor cria uma nova fraternidade para todos os estrageiros que se tornam irmãos dos judeus.

Jesus torna-se um estrangeiro para uma parte do seu povo. Na cruz do Calvário e na morte de Jesus, não há mais permissão para a violência. Israel é chamado a ser um sinal da Aliança de Deus com toda a família humana.

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