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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

21/01/2024 07:30

No ano de 1962, encontrava-me na Terra Santa e, com um colega de estudo, fomos como Peregrinos até Israel e chegamos ao mosteiro dos Carmelitas, no Monte Carmelo, pedimos hospedagem por uma noite, que nos foi gentilmente concedida. Ao apresentar a minha identidade nacional, português, um religioso veio abraçar-me dizendo: Sou o Padre Daniel, de nascimento Aarão Chamuel Rufeisen, judeu, e converti-me ao catolicismo devido aos portugueses da África do Sul que me ajudaram a ser cristão, fui batizado e depois estudei para ser padre Carmelita.

Frei Daniel pertencia a uma família judia da Polónia, que tinha sido sionista toda a sua vida, um dos seus irmãos vivia em Israel, em Nahariiyah. Daniel foi um dos heróis da resistência durante a ocupação nazista, livrando milhares de judeus da mão da Gestapo. Foi condecorado pela sua conduta nas filas dos guerreiros soviéticos, e, finalmente, converteu-se ao catolicismo, até ao fim da guerra, viveu num convento onde encontrou refúgio.

Quando em 1949 o Irmão Daniel desembarcou em Haifa, onde vivia no mosteiro do Monte Carmelo, pediu ao Ministério do Interior a nacionalidade israelita. A resposta foi negativa, e especificava: “Judeu é aquele que, com toda a sinceridade, se declara como tal, a menos que não tenha mudado de religião”.

Frei Daniel recebeu também uma carta pessoal do Ministro do Interior, dizendo: “de tudo o que soube em referência ao seu caso, pessoalmente, vos considero como judeu, porém devo-me basear na decisão do Conselho de Ministros...”

O caso chegou ao Tribunal Supremo para definir quem é judeu. Até aos fins do século XIX e, principalmente século XX, tudo isto mudou. As perseguições, os pródromos confirmaram a conceção sionista, vieram consolidar o “facto nacional judeu”, como distinto, senão necessariamente separado “do facto religioso judeu”.

Israel foi construído, e depois defendido por milhares e milhares de judeus, mui diferentes dos sonhos nostálgicos dos judeus religiosos que esperavam, para voltar ao país, a vinda do Messias.

Com o nascimento do Estado judeu, abriram-se as portas a todo o judeu, qualquer que ele seja, religioso ou não. Aarão Rufeisen deixou de ser judeu apenas, porque durante uns dez minutos que durou o batismo, deixou de ser Judeu? O Estado moderno de Israel, prova que pelo menos até agora é um país como os outros, mas, com diferenças e soluções que lhe são próprias e, por vezes, nada fáceis, com problemas que vão desde o ponto de vista étnico, social, cultural e religioso, sendo ao mesmo tempo uma nação moderna e muito antiga.

Que belo lugar é o Carmelo para a contemplação e o sacrifício, porque foi que os antigos eremitas do oriente e do ocidente, e os antigos carmelitas do Tempo dos Cruzados o escolheram para ali imitarem o profeta Elias? O Carmelo, com o mar ao longe, e as nuvens que derramaram chuva e irrigaram as terras sedentas, no tempo de Elias, foram um símbolo da Mãe de Deus que, com o Seu Filho Jesus foi o Salvador da Humanidade. O simpático Carmelo foi um observatório para sacrifício quotidiano das virtudes, nalgumas ocasiões, até para o sacrifício cruento das próprias vidas dos religiosos. Os sarracenos, em várias ocasiões, sacrificaram ali todos os monges contemplativos. Os muçulmanos, no século XVIII, voltaram novamente a degolar a todos os carmelitas e destruíram o convento. Napoleão, quando retornava do Egito com muitos soldados franceses feridos e doentes, deixou-os aos cuidados dos religiosos e retornou para França. Não pensou, por certo, nos perigos que poderiam acontecer a todos aqueles jovens que o tinham imortalizado na campanha científica das terras dos faraós. Foram todos barbaramente assassinados pelos carrascos muçulmanos, juntaram o seu sangue ao dos religiosos. Os peregrinos de nossos dias, oram por eles junto dos seus túmulos, diante das portas do convento e da igreja de Nossa Senhora do Carmo. Para além do cruel holocausto, os muçulmanos arrasaram o convento e igreja. No século passado foi erguido o novo mosteiro e igreja que, visitamos sempre, quando peregrinos da Terra Santa.

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